Phnom Penh: Os campos de extermínio do Khmer vermelho

Um dos passeios mais tocantes da minha viagem pelo sudeste asiático, foram os Campos de Extermínio Choeung Ek ou Killing Fields do Khmer Vermelho perto de Phnom Pehn, capital do Camboja. Uma visita dura, porém marcante por um dos lugares mais cruéis da história do país. Uma forma de aprender sobre o passado recente do Camboja e de evitar que atos de crueldade como este sejam repetidos.

“Be quiet please” indica a placa na entrada dos campos de extermínio Choeung Ek, um gramado extenso e bem cuidado sinalizado com placas de madeira e um memorial cujo telhado remete ao estilo dos templos locais. O memorial será a última parada do tour auto-guiado pelo local. O clima é triste e pesado, mas tristes mesmo são as histórias que ouviremos a seguir, contadas pela voz suave de um audio-guia distribuído na entrada do recinto (você poderá escolher entre Inglês, espanhol, francês…mas nada de português).

Killing Fields - Phnom Penh

Placa na entrada do campo de extermínio do Khmer vermelho

Apreensiva com o que veria a seguir, apertei o botão do play e me deixei levar uma por narração de pouco mais de uma hora sobre as histórias daquele lugar.

Antes de continuar com as descrições do passeio, acho legal dividir com vocês 2 parágrafos sobre a revolução do Camboja, algo que vale a pena aprender antes de visitar o país.

Um pouco do contexto

A revolução do Camboja começou em 17 de abril de 1975 com a evacuação de mais de 2 milhões de pessoas de Phnom Pehn, a capital ficou deserta e as famílias foram aleatoriamente divididas e enviadas para os campos de trabalho forçado para plantar campos de arroz e cavar canais de irrigação, a meta era tornar o Camboja numa sociedade 100% agraria e dobrar a produção de arroz da noite pro dia, algo que jamais ocorreu.

Enquanto jovens eram treinados para integrar a milícia, homens, mulheres e crianças a partir de 6 anos eram forçados a trabalhar cerca de 18 horas por dia e obtinham pequenas porções de comida em troca do trabalho forçado. O ritmo imposto sobre os camponeses era tão duro, que milhares do cambojanos sofreram a mais dura das mortes: fome.

Todos os bens de consumo ocidentais foram destruídos, o dinheiro foi abolido e todos os imóveis passaram a pertencer ao estado. Em seguida Pol Pot, o líder do movimento, começou a prender e assassinar todos os cidadões que possuíam qualquer instrução: médicos, engenheiros, advogados eram presos e mortos junto com todos os membros da família para evitar qualquer revanche futura. Grande parte dos assassinatos ocorreu nos campos de concentração de Phnom Phen.

Não se sabe ao certo o número de mortos do regime cambojano, estima-se que cerca de 1,7 a 2 milhões de pessoas (~25% da população da época) foram executados num dos regimes mais cruéis da história.

Sobre o genocídio no Camboja: Dica de livro para ler antes de viajar

Pra quem quer ler algo incrível, triste e tocante antes de ir pro Camboja, eu recomendo In the Shadow of the Banayan, um dos melhores livros que li nos últimos tempos. Veja a review escrita pela Camila do Viaggiando aqui.

A visita pelos campos de extermínio

O Killing Fields tem apenas dois edifícios: um memorial aos mortos do genocídio e um pequeno museu com objetos da época. O clima é pesado e zero amigável, porém reflete bastante a história dura que o Camboja sobreviveu.

O audioguia

Logo na entrada os visitantes recebem o audio guia e é só apertar o botão de play para mergulhar no mundo de barbaridades de um regimes mais extremistas que já existiu. São 18 paradas diferentes demarcadas por meio de placas de madeira que contam um pouco do que existia no local durante os tempos do Khmer rouge.

Killing Fields de Phnom Penh

Placas de madeira que indicam o caminho

A primeira parada ds dia é onde o caminhão repleto de prisioneiros amarrados e vendados os largava. Um a um, os prisioneiros eram levados pelos “soldados do Khmer” e para economizar as balas – algo caro na época – eram assassinados de maneiras brutais como pedradas na cabeça, enforcamento, corte na garganta feito com a ajuda de uma planta local, ou golpes de martelo ou de varas de bambu. Bem brutal e até um pouco surreal.

Killing Fields de Phnom Penh

Cascas da palma serviam de arma

Histórias dos sobreviventes

O item 12 do audio guia tem 9 histórias diferentes, histórias tristes e que te ajudarão entender um pouco do que rolou no Camboja durante aqueles anos sombrios. Para ouvir as histórias, faça um caminhada ao redor do lago, juro que vai ajudar a aliviar a tristeza e a agonia.

campos de extermínio de Phnom Penh

Caminhada em torno do lago para aliviar o peso das histórias

Valas comuns repletas de ossos

De volta ao passeio, fomos conduzidos pelos buracos mal cavados das valas comuns que abrigavam centenas de corpos (muitas das partes grandes desses corpos foram escavadas e hoje estão expostas no monumento comemorativo).

campos de extermínio de Phnom Penh

Valas comuns não sinalizadas

Alguns dos buracos foram demarcados e cercados com gradinhas de bambu. Essas valas tem placas indicando o número de corpos enterrados, uma delas tem centenas de corpos sem cabeça, outra tem corpos pelados… e todas foram decoradas com pulseirinhas coloridas, uma homenagem solene aos que estão enterrados alí.

Valas sinalizadas

Valas sinalizadas

Killing Fields - Phnom Penh

Infelizmente nem todos os corpos tiveram a chance de ir parar no memorial ou ganhar uma vala demarcada. Durante o percurso você verá dezenas de ossinhos que ainda estão de baixo da terra, querendo aos poucos sair dela.

"Não pise nos ossos" diz a plaquinha azul em uma das áreas de maior concentração de ossos ainda não escavados

“Não pise nos ossos” diz a plaquinha azul em uma das áreas de maior concentração de ossos ainda não escavados

Árvore como palco de assassinatos

Ao lado de uma das fossas há uma árvore grande e bonita que esconde uma história terrível. Essa árvore servia de apoio para arremessar bebês e crianças pequenas até a morte. [O Khmer Rouge acreditava que a melhor forma de evitar uma vingança futura era assassinar a família toda, assim, nem crianças pequenas e nem bebês eram poupados do extermínio. Duro não? Ao ouvir isso, meu coração ficou pequenino e dolorido. Que judiação tremenda.]

campos de extermínio de Phnom Penh

A árvore do extermínio – um apelido feio para uma árvore tão linda

Caixa com roupas das vitimas & caixa com ossos

Outro pedaço bem marcante da visita são as caixas repletas de roupas dos mortos, ou caixas com ossos. Um clima triste e tenso, acompanhado pelas explicações terríveis do audio guia.

campos de extermínio de Phnom Penh

Caixas com roupas de vítimas

A árvore mágica
Para aliviar os ruídos dessa brutalidade (e não assustar ainda mais os prisioneiros vendados que estavam na fila para serem mortos em seguida) uma caixa de som em volume bem alto tocava um melodia musical incessante. A mágica da árvore era camuflar os tristes ruídos de uma civilizaçãomassacrada de forma brutal.

campos de extermínio de Phnom Penh

A árvore mágica

Memorail do genocidio

E por fim chegamos a estupa comemorativa, construída para preservar a memória das vítimas do extermínio. Um prédio cujo telhado remete aos templos do Camboja.

Killing Fields de Phnom Penh

O memorial contém centenas de ossos (os crânios estão catalogados pelo tipo de morte) e roupas de algumas vítimas protegidas por placas grossas de vidro. Esse memorial é o ponto final da visita e o inicio de uma reflexão: como evitar que genocídios como esse ocorram em outros cantos do mundo?

campos de extermínio de Phnom Penh

Ossos e roupas cuidadosamente distribuidos no memorial

campos de extermínio de Phnom Penh

Os adesivos nos craneos indicam o tipo de morte

O Museu dos campos de extermínio

O museu adjacente ao campo de exterminio é bem pequeno, mas tem coisas interessantes como fotos dos líderes do movimento, uniformes usados pelo Khmer Rouge e as armas mais comuns utilizadas para assassinar os prisioneiros.  O museu também tem um pequeno cinema que de tempos em tempos passa um filme (bem fraco) sobre o Camboja e os campos de extermínio. O vídeo não acrescenta absolutamente nada e é pura perda de tempo.

campos de extermínio de Phnom Penh

Uniforme do Khmer Rouge

campos de extermínio de Phnom Penh

Armas utilizadas para matar as vítimas


Informações adicionais:

Site do Killing Fields

  • Quanto Custa: $6,00
  • Horários de funcionamento: das 8:00 às 17:00
  • Como chegar: Os campos de extermínio do Khmer Rouge ficam há pouco mais de uma hora de Phnom Penh de tuk tuk. Para chegar lá você precisa organizar um passeio ou contratar um tuk tuk. Negociamos um tuk tuk para nos levar aos campos de extermínio, à prisão S21 e ao museu nacional do Camboja por 15 dólares.

Espero que tenham gostado da dica, e que aproveitem a visita para refletir!

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Campos de Exterminio do Khmer Vermelho


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mari vidigal
mari vidigal
Mari é editora do Ideias na Mala há 14 anos e mora na Califórnia. Já visitou dezenas de países e explorou boa parte dos Estados Unidos com seus filhos Tom e Caio. Sua paixão? Viajar com o motorhome Rocky e colecionar Springs na Flórida. Mari é conhecida pelos seus roteiros super completos dos principais destinos da Europa (sim! Tem roteiro de Paris, Madri, Londres, Portugal e Amsterdam) e pelo conteúdo mais completo da Califórnia, Flórida e Las Vegas entre os sites de viagem do Brasil. Em 2021 recebeu o prêmio IPW Travel Awards, um dos maiores prêmios de jornalismo de viagem, e em 2024 foi finalista do prêmio Europa de Comunicação.

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Comentários:
Avatar Lili disse:

Olá 🙂 vou parando Camboja próximo mês é preciso de um sítio para deixar as malas em Phnom Penh… sabe de algum ?

mari vidigal mari vidigal disse:

Infelizmente não? PQ vc não tenta viajar apenas com mala de mão?! Foi o que eu fiz, é tão barato lavar roupa na Ásia!
Abraços

Mari, realmente esse lugar marca a nossa vida de uma forma que não podemos explicar em palavras. Estou escrevendo no meu blog sobre como foi minha experiencia e gostaria de citar seu artigo que é mais detalhado. Eu não consegui tirar fotos, fiquei muito abalada. Adorei a indicação do livro, quero ler mesmo.
Abraços.

mari vidigal mari vidigal disse:

Oi Giulia,
Sinta-se a vontade para usar as fotos desse post – desde com o devido crédito. Foi realmente uma experiência forte e marcante! E obrigada por citar o Ideias na mala.
Beijos

Como você sabe, acabei não indo aos campos de extermínio. Não tive tempo suficiente e, para ser sincera, conhecer o Museu do Genocídio já foi emoção suficiente. O livro que lemos é mesmo ótimo, né? Me fez chorar muito, mas é muito bonito. Esses dias vi uma notícia dizendo que o outro livro do Camboja que li antes da minha viagem (First They Killed My Father) está sendo adaptado para as telas. Parece que Angeliana Jolie é quem vai dirigir para o Netflix.

Obrigada por citar o Viaggiando, Marina! Ainda mais indicando meu post sobre Phnom Penh, cidade pela qual guardei enorme carinho.

Beijos!

mari vidigal mari vidigal disse:

Oi Camila,
Obrigada pela visita 🙂
Sabe que voltei do Camboja morrendo de vontade de ler “First They Killed My Father”, mas to tentando focar um pouco no #198 livros para ver se a coisa anda. Rs
Seu post de Phnom Penh está divino. Pena que não li antes de viajar, teria sem dúvida mudado algumas coisas no meu roteiro! Assim, deixo a dica pros leitores! 🙂
Beijão!