Afroturismo: 2 roteiros imperdíveis sobre história e cultura negra no RJ
Afroturismo no Rio de Janeiro! Se você curte roteiros diferentes, que vão muito além do turismo tradicional e adora saber mais sobre a cultura e as raízes do nosso povo, esses 2 roteiros sobre a história e a cultura negra no RJ são para você!
Esses roteiros de afroturismo no Rio, nos levam conhecer a cidade partir da visão do povo negro que ajudou a construí-la. O Afroturismo resgata memórias, lugares e personagens negros que marcaram a história brasileira. Vou contar aqui como e por que você deve incluir os 2 roteiros sobre a história e a cultura negra na sua viagem!
![Afroturismo no RJ, cais do valongo](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/cais-do-valongo-1-1024x764.jpg)
Afroturismo no Rio de Janeiro: 2 roteiros diferentes
O Afroturismo é uma vertente do turismo tradicional que vem ganhando muita força no Brasil. Isso porque ele nos apresenta a história das cidades sob a perspectiva negra, destacando pontos turísticos, bairros e acontecimentos históricos que até pouco tempo atrás não eram mencionados em livros de História do Brasil, mas influenciaram a formação cultural do nosso povo. Como uma das cidades mais antigas, e a segunda capital do Brasil, o Rio de Janeiro está recheado de histórias e de cultura negra.
O turismo Afro cria uma reconexão dos negros com a sua ancestralidade e amplia a consciência de todos sobre a relevância do povo africano na história e cultura brasileira. Agora não pense que o afroturismo conta somente histórias de dores relacionadas a escravidão, não! Têm muitas histórias sobre resistência, união, música e vitórias.
Aí vão dois roteiros sobre Herança Africana no Rio de Janeiro que eu fiz e recomendo:
1 – Pequena África
Após o projeto do Porto Maravilha (que reformou toda a região do centro e a Zona Portuária do Rio para os Jogos Olímpicos), a prefeitura da cidade criou um roteiro chamado Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana e esse circuito passa pelos bairros da Gamboa, Saúde e Praça Mauá.
Foi Heitor dos Prazeres (sambista e compositor), quem no início do século XX, denominou esse trecho da cidade de Pequena África.
![Afroturismo no RJ](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/Morro-da-conceicao-2-1024x657.jpg)
O percurso é feito a pé e dura 3h. Eu fiz o tour com a Sou+Carioca, mas existem diversas empresas que fazem esse roteiro como a Conectando Territórios e a Rio Antigo.
Ao longo do tour temos uma aula de história do Brasil contada a partir do olhar negro, desde a chegada dos africanos ao Brasil como escravos, relatando o tratamento desumano que eles receberam, suas lutas como negros libertos pós abolição, histórias de personalidades como Tia Ciata e da bailarina Mercedes Baptista e a criação do samba.
Os principais pontos do tour são:
Morro da Conceição
Ele é o berço da ocupação da cidade do Rio de Janeiro com sobrados centenários e vilas de operários. Muitas ruas ainda guardam a aparência dos tradicionais bairros portugueses com suas casas típicas, uma herança histórica da época em que ali viviam pessoas da alta sociedade.
![Morro da Conceição. Pequena África](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/Morro-da-conceicao-1-1024x768.jpg)
Largo de São Francisco da Prainha
O largo tem esse nome porque o local já foi uma praia conhecida como prainha (século XIX) que sumiu após os aterros na região. O local já funcionou como um mercado de pessoas escravizadas, antes da existência do Cais do Valongo, e após a abolição os negros encontraram ali um local para morar.
A estátua que fica na praça é da Mercedes Baptista. Ela foi a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e também criadora do balé Afro-brasileiro, inspirado nos terreiros de candomblé.
O largo já circulou no ranking da Time out Londres com uma região super descolada, cheia de bares e pessoas de todos os tipos de perfis. Ao final do tour, esse é um bom lugar para voltar e almoçar, ou beber uma cerveja gelada e garrafa e no isopor. Dois bares famosos na praça são: Angu do Gomes (Endereço: Rua Sacadura Cabral, 75 – Saúde, RJ) e Bafo da Prainha (Endereço: Largo São Francisco da Prainha, 15 – Saúde, RJ).
![Largo da Prainha. Pequena África](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/largo-da-prainha-1024x768.jpg)
Pedra do Sal
Foi tombado em 1984 como Patrimônio Histórico. É uma pedra enorme e na qual foi talhada uma escada e, no passado, os escravos utilizavam as escadas para descarregar o sal dos navios que atracavam no porto.
Foi na Pedra do Sal que começou a disseminação do Candomblé no Rio de Janeiro e na década de 1930, o local foi o berço do samba carioca. Ainda hoje a Pedra do Sal é palco de rodas de samba e de choro (de sexta à segunda a partir das 18h). O Instagram oficial é @pedradosaloficial
![Afroturismo no RJ: Pequena África](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/Pedra-do-Sal-1-1024x769.jpg)
Jardim Suspenso do Valongo
O jardim foi construído em 1906 como parte de um projeto para remodelar e trazer ares europeus para a cidade, então nada melhor do que um jardim inglês.
A ideia na verdade era apagar da memória das pessoas a história do local: a rua era repleta de lojas que vendiam escravos e era dali que os escravos saiam para as Casas de Engorda, local no qual os recém-chegados que estavam muito magros ficavam até ganhar peso para que seu preço aumentasse no mercado. Ouvir a explicação da guia sobre essa parte da nossa história foi bem difícil, e me fez refletir sobre como essas pessoas eram tratadas sem nenhuma dignidade e ficaram esquecidas na História.
![Afroturismo: Pequena África](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/jardim-suspenso-do-valongo-2-1024x768.jpg)
Cais do Valongo
Foi construído em 1811 para ser o local de desembarque e comércio de escravos africanos. O mercado de escravos se intensificou a partir da construção do cais e estima-se que o local foi a porta de entrada de cerca de 1 milhão de escravos africanos.
Em 1843 ele foi remodelado com requinte para receber a Princesa das Duas Sicílias, Teresa Cristina Maria de Bourbon, na época noiva do futuro Imperador D. Pedro II. O cais passou a se chamar Cais da Imperatriz. Com as obras de revitalização da cidade, em 1911 ele foi aterrado e desapareceu.
Com as obras do Porto Maravilha (2011), o sítio arqueológico foi resgatado, assim como vários artefatos trazidos pelos africanos escravizados. O Cais do Valongo recebeu o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO em 2017 por ser o único vestígio material da chegada dos africanos escravizados nas Américas.
![Afroturismo: cais do valongo](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/cais-do-valongo-3-1024x768.jpg)
Onde comer na Pequena África do Rio de Janeiro
Quando o tour acabou, algumas pessoas do grupo resolveram almoçar juntas em um bar da região. Nós fomos no Odara Gastrobar Urbano (Endereço: Rua Sacadura Cabral, 375 – Saúde, RJ), é um bar bem legal e descolado, com comida boa e barata!
Comi um pastel de costela bovina e uma feijoada que estavam deliciosos, a feijoada serve tranquilamente 2 pessoas! A casa tem drinks autorais que valem a pena ser pedidos.
![Pequena África: afroturismo](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/odara-gastrobar-2-1024x768.jpg)
![restaurante Pequena africa: afroturismo](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/odara-gastrobar-1-1024x694.jpg)
Fora do circuito, mas também uma opção interessante para continuar nessa vibe de ancestralidade africana é comer no Dida Bar e Restaurante (Endereço: Rua Barão de Iguatemi, 379 – Praça da Bandeira, RJ), um local que como eles mesmo dizem compartilha saberes e valores africanos através da gastronomia.
A decoração do bar é toda temática, eles tem uma área climatizada e outra que é um jardim super lindo! O atendimento do restaurante é excelente e ainda tem uma lojinha que vende roupas de tecidos africanos e bijuterias.
No dia em que eu fui estava acontecendo o Festival Comida di Buteco, então minha escolha foi o aperitivo que estava participando do concurso: dadinhos de tapioca feitos com ingredientes de feijoada, lombo desfiado, bacon crocante, couve crispy e geleia de pimenta. Para acompanhar pedi um drink super diferente chamado entre palhas, que era uma vodka infusionada com pipoca e caramelo salgado, tanto a comida como o drink estavam muito bons.
![Comida africana: afroturismo](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/Dida-bar-1-1024x768.jpg)
![Comida africana: afroturismo](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/Dida-bar-2-768x1024.jpg)
2 – Herança Africana em Madureira
Quem gosta de samba com certeza já ouviu a música do Arlindo Cruz “Meu lugar” na qual ele exalta o bairro Madureira e conta nas entrelinhas um pouco das suas características e história:
Ai meu lugar
Quem não viu Tia Eulália dançar
Vó Maria o terreiro benzer
E ainda tem jongo à luz do luar
Ai que lugar
Tem mil coisas pra gente dizer
O difícil é saber terminar
Madureira, lá laiá
Madureira, lá laiá
Madureira é a capital do subúrbio carioca, um lugar cheio de histórias, terra do samba e berço do jongo. O bairro respira ancestralidade africana e nesse tour conhecemos os seus principais pontos turísticos.
![herança africana em Madureira](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/personalidades-negras.-baile-charme-1024x768.jpg)
O percurso é feito a pé e dura 2h. Eu fiz o tour com a Sou+Carioca, mas existem diversas empresas que fazem esse roteiro como a Guiadas urbanas, Tour Delas e a Brafrika.
No início do tour a guia nos contou como se deu a formação do bairro,que já foi uma grande fazenda, e a origem do seu nome. Também aprendemos como a população negra chegou a Madureira, empurrada pelo poder público que queria transformar o Rio de Janeiro na Paris dos trópicos e com isso eliminou as moradias populares do centro da cidade.
Madureira é popularmente conhecida como o berço do samba devido a duas grandes Escolas de Samba que tem suas quadras no bairro: Portela e Império Serrano.
Na verdade o berço do samba é a Pedra do Sal, na Pequena África e Madureira é o berço do jongo –uma dança afro-brasileira de roda e de umbigada, que vem dos tempos da escravidão –sendo o mais famoso o Jongo da Serrinha.
Os principais pontos do tour são:
Viaduto Negrão de Lima
O tour começa embaixo do viaduto de Madureira como ele é popularmente conhecido. Uma área que abriga vários grafites e a famosa feira das brecholeiras, um mercado a céu aberto que acontece todo sábado em frente a CUFA. A feira transformou as mães solo em mulheres empreendedoras e capazes de sustentar seus lares.
Os grafites desenhados nas pilastras do viaduto nos contam através de imagens a história e a cultura do bairro. Eles falam sobre as primeiras pessoas a habitarem a região quando ainda era uma fazenda, o jongo, a religião de matriz africana e a ausência do pai na dinâmica familiar – uma realidade bem comum para as pessoas negras.
![Afroturismo em madureira](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/grafites-viaduto-madureira-1024x754.jpg)
Praça das mães
A praça se chama assim porque lá tem uma estátua de uma mulher com um filho no colo e aos seus pés está escrito a palavra mãe. Foi o primeiro monumento dedicado às mães, mas não existe uma história oficial do porquê esta estátua foi colocada lá. Hoje a praça abriga diversas carrocinhas que vendem lanches rápidos, sopas e cerveja gelada, sendo um ótimo local para comer antes ou depois de curtir um baile de charme!
Na terceira quinta-feira do mês acontece um evento chamado Fuzuê que tem espetáculos gratuitos de jongo e samba de roda.
![Circuito herança africana](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/Praca-mae-1024x778.jpg)
Baile Charme
Quem já ouviu falar de Madureira, com certeza também já ouviu falar dos famosos baile charme que ocorrem por lá! Mas que estilo de música é esse chamado charme? Na verdade são músicas de funk melody, soul e black music. Os movimentos culturais de música negra americana, principalmente o soul e funk dos anos 70 e 80 são a base de formação desse baile.
O baile do viaduto de Madureira se tornou um Patrimônio Imaterial da cidade do Rio de Janeiro em 2013. Ele faz parte da formação cultural e da identidade das pessoas negras, além de ser o reduto da black music no Estado.
![afroturismo em madureira](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/Baile-charme-1024x768.jpg)
Escola de samba Império Serrano
A Escola foi fundada em 1947 após um desentendimentos entre os sambistas da Escola Prazer da Serrinha. Foi a primeira escola a criar um samba que contava um enredo e essa inovação rendeu o título de campeã em seu primeiro desfile em 1948 e nos 3 anos subsequentes.
A Império Serrano também foi a primeira escola a ter uma mulher na sua Ala de compositores: Dona Ivone de Lara. Ela se tornou a primeira mulher a assinar um samba-enredo e foi conhecida durante sua longa vida como a Rainha do samba.
![Afroturismo Escola de samba](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/Imperio-serrano-1024x768.jpg)
Escola de samba Portela:
A Escola foi fundada em 1923 sendo considerada a Escola de Samba mais antiga da cidade. Ela também ocupa o posto de escola com o maior número de títulos, são 22 no total sendo chamada de Majestade do Samba.
A Portela tem uma participação muito importante na vida cultural carioca, pois a sua Velha Guarda coleciona nomes importantes do samba como Paulo da Portela, Tia Surica, Natal, Paulinho da Viola, Candeia, Monarco, Clara Nunes entre outros.
![Afroturismo em madureira](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/Portela-2-1024x689.jpg)
![turismo em madureira](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/Portela-1-1024x781.jpg)
Minha dica para quem não pode fazer esse roteiro, mas quer conhecer alguma escola de samba é: acompanhe a escola nas redes sociais. É comum as escolas fazerem eventos como feijoada, show de sambistas e rodas de samba, então programe a sua viagem para poder participar de algum desses eventos.
Janeiro e fevereiro não há eventos devido a proximidade do carnaval e os constantes ensaios, contudo você pode assistir os ensaios que as escolas fazem na rua nos arredores da quadra. O ensaio técnico das escolas na Marquês de Sapucaí são abertos aos público e gratuitos, mas chegue cedo porque eles ficam lotados.
Parque Madureira:
É uma área de lazer com bosques, quadras para praticar esportes, pista de skate e ciclovias. No local tem uma praça do samba, onde ocorrem shows e onde símbolos das duas escola de samba do bairro estão gravados.
Quem entra no parque pelo acesso de Madureira vê logo uma árvore bem diferente bem na entrada: é um baobá. Ela foi plantada pelos integrantes da Portela, pois tem valor simbólico para a cultura afro-brasileira.
Segundo a tradição africana, o baobá representa uma ponte entre os vivos e os mortos. Ela também carrega a simbologia da ancestralidade, pertencimento e resistência do povo negro.
![Afroturismo: parque madureira](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/Parque-Madureira-1-1024x768.jpg)
![turismo em madureira](https://ideiasnamala.com/wp-content/uploads/2023/05/Parque-Madureira-2-1024x768.jpg)
No final do tour nós resolvemos curtir um pouco os bares do parque e os sambas que estavam rolando. Há muitos lugares para comer, alguns com música e outros sem. Escolhemos um barzinho com música ao vivo para tomar uma cervejinha e conversar. Recomendo!
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pessimo. não traz informações de como participar ha horas tentando
Olá Virginia,
No início de cada tour eu indico as empresas que fazem o passeio.
Os tours funcionam de acordo com a demanda, não tem data e nem horários fixos. Basta você clicar no nome da empresa que você será direcionado para a página dela e poderá ver a disponibilidade do tour direto com eles.
Bom passeio.