Santos: Conheça o Museu do Café
Conheça o Museu do Café em Santos, um passeio pra toda família em pleno centro da cidade. O prédio, patrimônio cultural, é repleto de exibições e atrações imperdíveis para os amantes de café. E quer saber? Ainda não sei como demorei quase 30 anos para conhecer este museu!
Nesse post, dividirei com vocês minhas impressões sobre o Museu do Café, localizado no prédio da Bolsa Oficial do Café, e que completou 20 anos de existência no dia 12 de março de 2018. Vem comigo?
Café, patrimônio cultural do Brasil: ciência, história e arte.
“Em um grão, um mundo. Em uma xícara, a força de muitas mãos“. E assim começa a nossa visita ao Museu do Café, um espaço que tem como missão contar a história do café e compartilhar sua importância no país, mostrando ao visitante que o pequeno grãozinho é muito mais do que um produto agrícola, ele é parte do patrimônio e da identidade nacional.
O homem teve um papel fundamental para que o café se tornasse muito mais do que um grão, se relacionando com todo o universo que envolve o café e, posicionando o Brasil como maior produtor de café e segundo maior consumidor no mundo. Não é pouca coisa não!
O país buscou conhecimento científico, inovações tecnológicas para sua melhor produção, colheita, venda e, dessa forma, criou uma nova relação política e econômica com o mundo. O café alterou o cenário do país, trouxe a necessidade da abertura de ferrovias, da modernização de portos, e as mudança nas relações de trabalho, geração de riquezas e novos hábitos.
Bolsa Oficial de Café de Santos: o Museu do Café
O suntuoso prédio no centro da cidade que hoje abriga o Museu do Café antigamente era conhecido como Palácio Oficial da Bolsa de Café (isso mesmo, estamos falando de uma bolsa de valores exclusiva para a negociação do grão), já naquela época 85% da economia do país vinha do café.
Para quem se lembra das aulas de história, o café também chamado como ouro verde, era o principal produto de exportação brasileiro durante o império, grande parte das fazendas produtoras do grão estavam concentradas no interior de São Paulo e o porto de Santos era utilizado pelos barões do café para exportar os grãos.
Sala do Pregão
A sala do pregão era o coração da Bolsa Oficial de Café, onde as negociações do grão eram mediadas pelos corretores. Além das partes envolvidas na negociação, todos os que queriam acompanhar os direcionamentos do mercado podiam assistir o pregão. O auge do seu funcionamento se deu na década de 1920.
Apenas os Corretores Oficiais podiam atuar, isto é, homens, maiores de 21 anos e que pagavam uma mensalidade para ter sua cadeira cativa no leilão (as cadeiras eram numeradas). Eles eram nomeados diretamente pelo Estado, após o cumprimento de uma série de exigências.
Cada cadeira tem acoplada uma mesinha redonda, apoio que os corretores utilizavam para assinar os contratos de compra e venda. As negociações continuaram a ser feitas no local até 1957, para então passar a funcionar na BMF, no famoso prédio do Bovespa em São Paulo.
A sala do pregão é disposta em formato de círculo, envolta pelas cadeiras numeradas e decorado por uma obra majestosa de Benedicto Calixto em vitral no teto. O vitral representa as três épocas marcantes do café: lavoura e abundância, império e república. A obra representa a época do império com o corte da cana de açúcar e o café (uma economia voltada para a agricultura) e a república pela revolução industrial, a chegada da indústria, do comércio, dos navios a vapor, desenvolvimento e crescimento econômico do país graças à exportação do café.
As portas do museu fazem uma analogia à época da agricultura, como se o prédio tivesse se teletransportado para o meio das plantações de café, o que me chamou atenção
Classificação dos grãos
Para a classificação dos grãos eram retiradas amostras das sacas de café, sendo avaliados os defeitos dos grãos, defeitos das impurezas (pedras, folhas), aroma e sabor. O grão recebia uma nota, e então era fixado seu preço inicial, que ficava disposto na tabela com que o visitante se depara logo na entrada.
Os cafés comercializados na bolsa previam uma entrega futura em meses predeterminados. Concluído o pregão, a média dos valores dos cafés vendidos no dia era fixada no quadro negro e a negociação era formalizada na Caixa de Liquidação. O café começou a ser exportado para Santos no início do século XXIX, sendo certo que a criação das linhas ferroviárias melhorou muito sua disponibilidade.
Saindo da área do leilão, passamos a uma sala onde são expostas todas as etapas estruturais do processo “da planta à xícara”.
Exibições do museu
Nós próximos parágrafos dividirei com vocês cada pedacinho do museu e das exibições temporárias que estavam em cartaz durante a minha visita. Como as exibições mudam de tempos em tempos, pode ser que a sua visita seja completamente diferente da minha!
Da planta à xícara
Ainda no primeiro módulo do museu, o visitante se depara com estufas de vidro com mudas do café, os instrumentos de trabalho utilizados no passado para o seu cultivo e explicadas de maneira bem lúdica todas as fases: produção de mudas e preparo do terreno, colheita e abanação, processamento, armazenamento e rebeneficiamento.
Em um segundo aquário, o visitante encontra diversos tipos de grãos expostos de acordo com sua classificação (pretos, ardidos, verdes, conchas, chochos, quebrados, cocos, marinheiros, cascas, paus pedras e torrões e brocados).
“Vai um Café? Cafeteiras e modos de preparo” – Exibição temporária (até OUT/2018)
Na exposição temporária “Vai um Café? Cafeteiras e Modos de Preparo” o público conhece diversas maneiras de preparar o café que ainda permanecem em uso, incluindo modelos artesanais e mecânicos. Os objetos foram divididos de acordo com os seus sistemas de funcionamento: ebulição e decantação, filtragem ou percolação, prensagem, vácuo e pressão.
É possível viajar através do tempo e ter uma percepção muito clara de tudo o que os avanços tecnológicos trouxeram em questão de poucos anos. A exposição mostra sistemas que são utilizados até hoje.
“Mãos do Café”
Nossa próxima parada foi na sala “Mãos do Café”, uma sala escura onde é exibido um filme da produção do café desde a sua plantação até a venda. Essa exibição tem dois módulos dispostos em diferentes andares (destaque para a escadaria linda que conecta os dois), e no segundo andar há uma linha do tempo que conta a história do café e a expansão do café pelo Brasil, por meio de uma abordagem social, econômica e geográfica, falando de temos diretamente conectados a história do café como a imigração, escravidão e construção de ferrovias.
“Desconstruindo uma Epopeia” – exposição temporária até OUT/2018
A mostra apresenta uma leitura crítica do belíssimo vitral “A epopeia dos Bandeirantes”, de autoria do pintor paulista Benedicto Calixto presente no salão do pregão do edifício da Bolsa Oficial de Café (lembra que falamos dele no comecinho deste post!). Nessa sala são “desfragmentadas” as informações contidas na peça em três camadas, para que o público possa compreender melhor o processo de concepção por trás dessa obra de mais de 90 anos.
República
A cena que representa o período republicano foi ambientada no Porto de Santos (principal saída de mercadorias e entrada de trabalhadores à época). Na imagem são retratadas quatro figuras envolta e uma representação feminina da Indústria e do Comércio, que oferece um cofre com valores a outra representação feminina, que seria a Pátria. As duas figuras masculinas representam os operários da indústria, que apenas observam a cena.
Ao fundo é possível identificar o cais modernizado com guindastes e locomotivas, bem como navios a vapor simbolizando os avanços industriais e tecnológicos. A intenção de Benedito Calixto era demonstrar a ligação entre a abundância da agricultura e o movimento exportador no porto bem como o auge do comércio e da indústria.
Império
Para caracterizar o Brasil Imperial, Calixto escolheu a agricultura, principalmente a cultura cafeeira. A imagem representa uma propriedade rural, a lavoura, chamando os homens ao trabalho e mostrando as recompensas que a terra tem a oferecer.
Benedito Calixto estabelece uma relação entre a cena anterior e essa nova obra, retratando o período da abundância decorrente dos esforços dos Bandeirantes que, já cansados e desanimados pelas expedições e vida nômade, voltaram às suas terras desiludidos pelas promessas da Metrópole e empobrecidos e decidiram “pegar firme” na produção agrícola, fazendo a lavoura ressurgir.
Note que não há qualquer alusão ao trabalho escravo nessas obras, apesar da escravidão ter permanecido durante quase todo o período e ter sido uma das bases para a expansão agrícola, como se o autor estivesse atribuindo todo o sucesso do progresso aos imigrantes europeus, renegando portanto a escravização dos africanos.
No último quadro temos a representação da visão do Anhanguera, o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, que reproduzia uma lenda cabocla relacionada à busca pelo ouro no início da colonização brasileira. Na imagem, o índio Paiaguá foi representado por Calixto como um “índio bravio”, que resistiu à colonização tornando-se um dos principais inimigos enfrentados pelos bandeirantes.
O bandeirante ameaçava os índios de lançar fogo à água dos lagos e dos rios, dizendo-lhes que toda a tribo morreria de sede se persistisse em não indicar-lhe o local das minas de ouro.
E pra complementar a exibição, há mostras interativas, como o pequeno atelier cenográfico com mock-ups de ferramentas utilizadas pelos profissionais na confecção e restauro de vitrais, além de textos explicativos e imagens compõe a exposição temporária.
“Praça de Santos”
Nessa exibição o visitante se depara com uma sala repleta de objetos, fotografias e headphones, que quando colocados no ouvido contam a história de personagens que trabalharam na cidade nas diversas etapas do café, iniciando com as catadeiras, passando pelos fiéis de armazém, classificadores, corretores, costureiras, ensacadores e, por fim, pelos estivadores. Uma forma interativa e interessante de entender o ponto de vista do trabalhador durante cada etapa do processo. Aí vão algumas fotos que ilustram um pouquinho da exibição.
“Artes e Ofícios”
A última exibição (a mostra no quarto andar do museu) demonstra como seu deu a substituição do aspecto colonial dos povoados para que as casas de taipa fossem demolidas, cedendo lugar a construções em tijolo com fachadas e interiores bem adornados. Os edifícios públicos e privados passaram a traduzir, por meio da arquitetura, a nova identidade das elites ligadas ao café. O museu apresenta como foi feita essa transformação, separando cada item e contando sua história.
Pra fechar com chave de ouro: um cafezinho
E como não poderia ser diferente, encerramos nossa visita ao museu do café na Cafeteria do Museu, no piso térreo do edifício da Bolsa Oficial do Café. A cafeteria conta com uma grande variedade de grãos que podem ser degustados na hora ou levados para casa. E quer saber a melhor parte? A cafeteria do museu é considerada a melhor cafeteria do litoral sul do paulista.
São diversas opções de bebidas quentes e geladas, drinques e doces à base de café, além, é claro, do tradicional expresso (que pode vir guarnecido com uma generosa quantia de Chantilly! YAAAY!). Para comer, várias opções de salgados além do tradicional pão de queijo e também sanduíches. Os preços são um pouco salgados, mas até eu que não sou uma entusiasta do grão decidi que precisava experimentar.
Dica de ouro: se achar uma mesinha livre, sente-se rapidamente, pois a cafeteria é hiper concorrida -o local estima receber cerca de 600 pessoas por dia e servir 450 xícaras de café por dia – então você pode imaginar a concorrência por uma cadeira, né?!
Informações úteis
Endereço: R. Quinze de Novembro, 95 – Centro, Santos – SP.
Horário de funcionamento: de terça a sábado, das 9h às 17h, e aos domingos, das 10h às 17h (inclusive feriados).
Preços:
- Entrada inteira: R$ 6.
- Estudantes e terceira idade pagam meia-entrada.
- Funcionários da rede pública do Estado de São Paulo são isentos.
- Aos sábados, a visitação é gratuita.
E aí, curtiu a dica?
Alguém aí já conhece o museu do Café e quer contar pra nós o que achou?