Índia: Safari de camelos em Bikaner – a minha experiência

Tá indo para a Índia e quer de fazer um passeio de camelo no deserto? Veja todos os detalhes do meu Safari de camelos em Bikaner – no Rajastão. Uma experiência diferente com camelos e uma noite inesquecível no deserto.

No post passado contei para vocês todos os detalhes práticos do meu passeio de camelos na Índia, e dei muitas dicas para quem pretende fazer algo parecido. Nesse post, divido com vocês um relato mais pessoal contando a experiência tim-tim pot tim-tim. Vem comigo?

Uma manhã cinzenta e com cara de poucos amigos nos recebeu em Bikaner. Havíamos passado a última noite a bordo de um trem noturno do tipo Sleeper (trem-cama) fazendo o percurso entre Delhi e Bikaner. O trem atrasou duas horinhas para chegar e nos mostrou já de primeira que o maldito horário Indiano estaria presente durante toda a viagem. Mas sabe que essa primeira experiência num trem noturno na Índia foi até que divertida? Contei todos os detalhes, com direito a perrengues nesse post.

Chegando em Bikaner, tivemos algumas horas para tomar banho (hiper bem vindo depois da noite no trem) e um café da manhã reforçado antes de seguirmos para o deserto. Em seguida, um jeep nos levou até o ponto de início do nosso passeio: uma vila no pé do deserto. Aproveitei o trajeto para fazer algumas fotos do percurso. Bem interessante a mudança de paisagem entre Delhi e Bikaner: chegamos na Índia de verdade!

Safari de camelos em Bikaner

No caminho do passeio: congestionamento de vacas

Safari de camelos em Bikaner

No caminho do passeio: mimosa posando

Safari de camelos em Bikaner

No caminho do passeio: criança fazendo graça no vidro do carro

O passeio de camelo

Com o tempo feio e algumas horas de atraso provocadas pelo trem, o jeito foi encurtar um pouco o passeio. Não sei o que perdi, ou o que deixei de ver, mas achei as paisagens desérticas bem parecidas e fiquei bem contente com as 4-5 horas passadas em cima do camelo. Eu definitivamente não precisava mais do que isso.

Safari de camelos na Índia

Fila de Camelos

Ao chegarmos no ponto de início do passeio fomos recebidos por uma série de camelos e puxadores de camelos. A bonitona aqui tava achando que ia montar no camelo como se monta em cavalo, só que não. Durante todo o passeio seriamos puxados por um “puxador de camelos”. Confesso que nem me empolguei com a novidade. O camelo é um bicho engraçado e pra lá de fofo, mas ser puxada o dia todo! Coitado do puxador, pensei!

Camelos babões

Nesse momento percebemos que mais ou menos metade dos camelos tinha uma baba branca bem nojenta no boca: “esses são os camelos-macho – explicou o guia – e a baba é para para atrair a fêmea. Como estamos quase na estação de reprodução eles ficam assim babosos”. Efetiva ou não para as camelos-fêmea (é assim que se fala? Rs – Entendedores de bicho #HELP), essa estratégia é zero atrativa para nós meninas que ficamos morrendo de medo de levar uma eventual lambida de camelo babado. Já pensou que nojo? Ecati, ecati ecati.

Safari de camelos na Índia

Reparem na baba de camelo na foto

Mas peraí, camelo não tem duas corcovas?

Constatar que faríamos um passeio de dromedário e não de camelo foi uma das primeiras descobertas engraçadas do dia. Como a corcova estava bem coberta com um pano espesso, demoramos algumas horas para perceber e dar risada. O que mudou na experiência? Para mim, absolutamente nada. Na real, já havia andado de camelo antes, então andar de dromedário é que foi uma novidade! (E pra mim que não entendo tanto de animais, achei o camelo e o Dromedário BEM parecidos. Ambos tem focinhos fofos, ambos estão bem adaptados ao clima desértico e ambos levantam do mesmo jeito engraçado).

Safari de camelos na Índia

Com vocês, o dromedário!

Subindo no camelo – quer dizer, dromedário.

O camelo tem um jeito todo particular de levantar. Primeiro ele ajoelha as patas dianteiras, em seguida levanta as patas de trás, e por último levanta as patas da frente. Esse movimento é bem rápido e te dá um tranco forte para trás seguido de um tranco para frente. E eu estava bem esperta com os trancos, mas não me segurei tão forte quanto deveria. Resultado: quando o dromedário levantou as patas da frente eu voei no pescoço do bicho que ficou possesso com a minha ousadia e tentou me presentear com um par de dentadas afiadas. Foi tudo muito rápido, me vi sentada no pescoço do bicho, uma mandíbula grande e raivosa vindo em minha direção e com uma agilidade tremenda voltei para a cela do camelo e escapei da mordida por um triz.

Safari de camelos na Índia

Dromedário sentando: é ou não é um bicho estranho?!

O Puxador do camelo também ajudou a controlar a fera, que por sorte não se movimentou muito. Será que camelo empina? Pensei calculando meus riscos e imaginando que uma eventual queda do camelo – um bicho relativamente alto – seria um começo de viagem pouco interessante e o impacto do chão duro do deserto seria zero receptivo para uma Brasileira desavisada. No final das contas escapei da mordida e o camelo se comportou bem e me deixou permanecer sentada. Dalí em diante, resolvi prestar atenção dobrada e segurar com muita força para nunca mais chegar perto do pescoço do bicho. Ficamos amigos.

Safari de camelos em Bikaner

Eu e meus dois dromedários – fotos depois do susto

Um segundo par de dentes.

Quando vi meu dromedário pela primeira vez, antes desse incidente com a boca cheia de dentes, pensei: “Que gracinha, é um camelo mamãe e o filhinho vem passear junto com a gente” – mas na prática, o tal do filhinho era mais uma potencial boca dentada bem na altura do meu pé. Em poucos segundos passei do amor total a mamãe, a um medo danado do pequeno filhote. Passei uns 20 minutos sem tirar o olho da boca dele e pronta para saltar do camelo caso o filhote tentasse me morder. Logo percebi que o filhote estava BEM mais interessado em seguir os passos da mãe do que abocanhar meu pezinho, e então ficamos amigos.

Safari de camelos em Bikaner

A minha vista: um par de camelos

E começa o passeio

Segundos depois de eu me acomodar na cela de dromedário, começamos nosso passeio em ritmo vagaroso e sempre seguindo em fila indiana – cada dromedário era levado por seu puxador e enquanto a fila andava tentávamos bater papo entre nós (os cuidadores falavam muito pouco inglês e estavam muito mais interessados em conversar entre eles do que interagir com a gente).

Safari de camelos na Índia

De um lado o mundo do descreo e do outro o mundo irrigado.

-“E aí, tá confortável? – mal começamos e minha bunda já tá quadrada.”

-“Medo desse bicho morder meu pé”. (minha frase preferida nos primeiros 20 minutos de passeio)

-“Muito nojenta essa baba do seu camelo, tô torcendo para ele te dar uma bitoca” (comentário MUY amigo de um dos meninos)

-“Mas cadê as dunas? Não íamos para o deserto? (Algum inconformado)

O fato do deserto de Bikaner não ser um mar de dunas de areia branca incomodou muita gente do meu grupo. Sim estávamos no meio do nada, e aquela vegetação rasteira com folhas pequenas, galhos retorcidos e muitos espinhos (não era essa a vegetação típica dos climas desérticos – a tal da Tundra que aprendemos na escola?) definitivamente indicava a ausência de chuva na região. Sim, goste ou não, estávamos no deserto! Mas não era um deserto desses lindos que a gente vê no cinema.

Safari de camelos na Índia

Deserto de Bikaner

[Detalhe que nosso guia espertinho se recusou a sentar num camelo e foi bonitão dentro de uma charrete no final da fila de camelos, segundo ele, uma precaução para caso alguém do grupo se cansasse do camelo. Mas o fato é que depois de umas duas horinhas no camelo, o traseiro fica quadrado e as pernas pedem arrego. Para ele que tem que fazer esses passeios com uma certa freqüência, por que não evitar? Tudo bem que na volta ele perdeu o reinado, a Fabi se cansou do camelo e pediu arrego na charrete o jeito foi ele se sentar no camelo.]

Paisagem repetitiva

E essa foi a paisagem da nossa manhã: moitas rasteiras, torres de energia, muita areia avermelhada e de tempos em tempos, alguns trechos de agricultura irrigados, a diferença a vegetação verdinha, e até florida era gritante e dava uma variada boa na paisagem.

Safari de camelos em Bikaner

Bem vindo ao deserto de Bikaner

Safari de camelos em Bikaner

Áreas irrigadas bem verdinhas

Hora do almoço

Depois de umas duas horas camelando, chegou a hora de almoçar. Os organizadores do passeio trouxeram refrigerantes e cervejas cobrados a parte – nessa hora mandei ver na minha primeira e última coca cola da viagem, tomar algo geladinho no meio do deserto era excelente, e olha que eu nem gosto de refrigerante. Detalhe que a Coca Cola indiana é levemente mais doce que a Brasileira.

Safari de camelos em Bikaner

Coca Cola no deserto

A equipe de organização em poucos minutos montou um senhor picnic: uma roda de cadeirinhas de metal em torno de uma mesinha de ferro e muitas cumbuquinhas de comida: salada de tomate e pepino, curry de frango, dal (creme de lentilhas) e arroz faziam parte do cardápio. A comida estava quentinha e bem mais gostosa do que eu esperava. Comi e repeti!

Safari de camelos em Bikaner

Lugar do almoço: um círculo de cadeiras e uma mesinha

Safari de camelos em Bikaner

Prato Principal

Safari de camelos em Bikaner

Saladinha

Vilas no meio do nada

A parte da tarde foi muito mais interessante do que a manhã, já que o deserto interminável deu espaço a uma série de vilas pequeninas, com escolas, crianças brincando, mulheres vestidas com saris coloridos e muitos ornamentos, vacas, porcos, templos e mesquitas. Foi muito legal ver a vida local de perto – e aparentemente com bem pouca intervenção turística. As pessoas nos viam passar, algumas davam tchauzinho, mas ninguém vinha tentar vender coisas ou pedir “um dólar, please” como em vários outros locais da Índia. Aproveitei para olhar tudo de pertinho, tirar fotos e tentar atrapalhar a vida local ao mínimo possível.

Safari de camelos em Bikaner

Casas de barro no deserto da Índia

Safari de camelos em Bikaner

Templo no meio do deserto

Safari de camelos em Bikaner

Crianças buscando água

Safari de camelos em Bikaner

Camelo trabalhador e o senhor de turbante

Ao sairmos das vilas, faltava uns 40 minutos de viagem até o local do nosso acampamento. Foi nesse momento que a Fabi cansou do camelo e trocou de lugar com o guia. Olha só que fofa a Fafa na charrete, zoei ela bastante e tirei muitas fotos”.

Safari de camelos na Índia

Charrete puxado por camelo

Camel “run”

No final do passeio meu puxador de camelo perguntou se eu queria correr. Opa! É claro que eu queria correr! Então segura firme, gritou ele enquanto tirava os chinelos e corria pelo deserto puxando o camelo. O trote do camelo é bem leve e bem gostoso. Essa pequena corrida foi uma forma muito gostosa de encerrar a jornada de camelo.

Acampando no deserto

Chegamos no camping pouco antes do pôr do sol, assim tivemos tempo de dividir as barracas (duas pessoas por barraca) e nos aprontarmos para o anoitecer. Nossa barraca estava montada com uma caminha até que confortável, mas sabíamos que com o frio do deserto teríamos que vestir todas as nossas roupas.

A barraca estava velhinha e tinha um buraco no zíper, problema que resolvemos com uma dose extra de bom humor (quando o problema impacta meu frio, viro uma arara e perco TOTALMENTE o senso de humor, sorte que a Fabi estava lá para segurar a fera) e muitas piranhas e fivelas de cabelo. No final ficou até que bem presinho.

Safari de camelos em Bikaner

O camping

Safari de camelos na Índia

Nossa barraca

Safari de camelos na Índia

Mesa comunitária

Safari de camelos na Índia

A cozinha

O acampamento tinha uma mesa cumprida com muitas cadeiras, uma fogueira e um banheiro improvisado (buraco cavado na areia) e uma privada  de verdade e muitos baldes de água para lavar a mal e “dar descarga”. Ficou BEM legal.

Safari de camelos na Índia

O banheiro

Safari de camelos na Índia

Privada improvisada

Pôr do sol no deserto

Pertinho do camping haviam algumas dunas – morrinhos cobertos de vegetação – e foi do alto de um desses morros que assistimos o sol se pondo. A sensação de estar no meio do nada e ver a natureza se enchendo de cores, foi um dos momentos mais gostosos do passeio.

Safari de camelos na Índia

Pôr do sol no deserto

Jantar & Fogueira

A comida do jantar foi ainda mais gostosa e caprichada que a do almoço. Nosso guia solicitou a equipe que nos fizesse uma porção extra grande de batatas fritas, que naquele friozão caíram maravilhosamente bem. Além das batatas haviam curries indianos, arroz e muitos vegetais. Realmente não dava para reclamar.

Safari de camelos na Índia

Fogueira

A noite no deserto é MUITO fria e a temperatura, de uma hora para a outra, simplesmente despencou. Assim sentamos em volta da fogueira e enchemos o nosso guia de perguntas sobre a Índia e como ele havia se tornado guia de viagens.

Quando o frio superou o poder de calor da fogueira, me despedi da galera e fui para a minha barraca me enfiar nos cobertores. Apesar de todas as minhas roupas quentes, a coitada da Fabi ainda foi espremida por mim, na tentativa de ganhar um pouco mais de calor dormi bem mais perto do que ela gostaria – amiga é para essas coisa, não é?! RS. Sorte que tínhamos cobertas separadas se não eu certamente teria puxado as dela, segundo o Gu, meu marido, num dia de frio a minha capacidade de puxar coberta é infinita e não importa o tamanho da coberta. Eu puxo tudo, sem nem acordar! #Coitado.

O nascer do sol no deserto Indiano & volta pra casa

Acordei com o barulho bizarro de uma radinho de pilha. Era hora da reza dos muçulmanos e um dos puxadores de camelo havia sintonizado seu radinho numa estação próxima. Já que estava acordada, subi a duna para assistir o pôr do sol. Lá no alto encontrei uma das garotas Suíças inconformadas que os outros não haviam se levantado para assistir o “espetáculo”, e juntas vimos o céu mudando e se enchendo de cores, foi o primeiro de muitos nascer-do-sol especiais que vi e vivi na Índia.

Depois do café da manhã, seguimos de charrete até o ponto onde os jipes nos buscaram. Os jipes nos levaram de volta ao centro de Bikaner. Teríamos o dia inteiro para conhecer e curtir os pontos turísticos da cidade. E como esse é assunto de um próximo post, deixo você por aqui. Espero que tenham curtido a aventura de “camelo” no deserto indiano.

Safari de camelos na Índia

Volta de charrete

E pra quem quiser organizar ua viagem como esta, veja todos os detalhes práticos desse passeio aqui.

E aí, curtiu as dicas?

Alguém aí já fez esse passeio de camelo quer deixar umas dicas?

E se você tiver perguntas, deixe um comentário! 🙂

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mari vidigal
mari vidigal
Mari é editora do Ideias na Mala há 14 anos e mora na Califórnia. Já visitou dezenas de países e explorou boa parte dos Estados Unidos com seus filhos Tom e Caio. Sua paixão? Viajar com o motorhome Rocky e colecionar Springs na Flórida. Mari é conhecida pelos seus roteiros super completos dos principais destinos da Europa (sim! Tem roteiro de Paris, Madri, Londres, Portugal e Amsterdam) e pelo conteúdo mais completo da Califórnia, Flórida e Las Vegas entre os sites de viagem do Brasil. Em 2021 recebeu o prêmio IPW Travel Awards, um dos maiores prêmios de jornalismo de viagem, e em 2024 foi finalista do prêmio Europa de Comunicação.

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Comentários:

Adorei a aventura. Excelente post. Me senti lá!

mari vidigal mari vidigal disse:

Que fofa! Obrigada pela visita e feliz que curtiu o post.
Já to morrendo de saudades da Índia!