Pushkar: A benção do lago
Conheça a benção do lago sagrado em Pushkar na Índia, uma benção que atrai peregrinos de todo o país em busca de felicidade.
A mistura entre o místico e o caótico, entre o sagrado e a confusão, entre a meditação e o ritmo Bollywood são alguns dos motivos que me levaram a Índia. Eu queria muito ver e viver tudo isso de perto, experiênciar essas duas Índias tao diferentes e tão atraentes de corpo e alma.
A faceta mais corriqueira e presente em todas as grandes metrópoles indianas se fez constante desde os primeiros momentos de Delhi. Ainda na corrida entre o aeroporto e o hotel percebi que encontraria todo o caos esperado nas suas formas, cores e cheiros mais diversos.
Mas ainda faltava o místico, essa parte da Índia tão linda de vivênciar e tão difícil de explicar, parte que pensei que só encontraria nos dez últimos dias do meu roteiro reservados para um retiro espiritual caprichado em Rishkesh (Norte da Índia). Me enganei.
Na Índia o místico e o caótico se misturam mesmo em grandes cidades, basta estar aberto, e procurar um pouquinho para encontrar verdadeiros redutos de espiritualidade, fé, yoga, meditação… Mas como ainda não estava pronta – ou preparada -passei por eles sem perceber. Fui levando, vivendo, fotografando e turistando, continuando minha viagem pelo caótico sem ser envolvida pelos encantos da Índia mística.
Novos ares
Foi aí que cheguei em Pushkar, que pelas descrições que havia lido parecia no mínimo uma cidade curiosa. Pushkar é a cidade mais sagrada do Hinduísmo, uma cidade estritamente vegetariana – até os ovos são completamente banidos da culinária local. A cidade tem etiquetas de como os gringos podem ser vestir (na Índia um pouco de bom senso para se vestir é bom, mas em Pushkar é uma exigência! Nada de shorts, nada de ombros expostos, nada de bebida alcoólica, você está em solo sagrado!) e atrai peregrinos de todo o país graças ao único templo do mundo dedicado ao Deus Brahma e um lago sagrado.
Veja dicas do que fazer em Pushkar nesse post.
Pouco antes da nossa chegada na cidade nosso guia nos contou curiosidades de Pushkar, falou sobre o Deus Brahma, sobre o lago sagrado finalmente sobre a benção do lago. Uma benção dada há séculos por descentes da casta Brâmane.
As falsas benções
Nosso guia nos contou que apesar de Pushkar ser uma cidade hiper sagrada, que teríamos que ficar muito espertos para não sermos enganados com “golpes” ou “Benções falsas”. Em seguida ele explicou haviam muitos falsos Brâmanes a beira lago, e que um verdadeiro Brâmane jamais estipularia uma quantia por seu trabalho e que jamais ficaria nos ameaçando ou pedindo mais dinheiro. Quem quisesse participar da benção poderia oferecer qualquer quantia acima de 200 rúpias (os Brâmanes falsos pedem entre 1000 e 1500 rúpias para cada membro da família, e chegam a ameaçar os turistas com pragas de má sorte). Fiquei BEM feliz em ter um guia confiável, que nos explicou a diferença e nos encontrou um Brâmane legitimo.
Enquanto eu adorei minha benção e saí de lá COMPLETAMENTE energizada e encantada com a experiência conheci muitas pessoas que detestaram o momento, ficaram com medo das ameaças ou se sentiram enganados. Muito louco como um treco tão lindo pode se transformar em uma dor de cabeça quando há pessoas mal intencionadas. (Se ficar curioso, leia relatos indignados no tripadvisor ;))
Deus Brahma e o lago sagrado
A palavra Pushkar em Hindu significa “Flor de Lotus”, e a flor de Lotus é o trono e também a arma de Brahma, o Deus da Criação e um dos deuses da santíssima trindade Hindu. Reza a lenda que o demônio Vajra Nabha matou os filhos de Brahma e que como revanche Brahma o acertou com sua arma, a flor de Lótus. O demônio morreu e as pétalas dessa flor caíram em três lugares diferentes. Um desses lugares foi Pushkar.
Em Pushkar as pétalas desse lotus formaram o lago sagrado onde Brahma realizou sacrifícios. As margens desse lago ele ordenou a construção de seu único templo. Hoje tanto o templo quando o lago são visitados e celebrados por hindus de todo o país.
A benção do Lago
De volta a minha experiência, chegou a hora de conhecer o lago sagrado e de vivenciar a benção do lago. Aqui preciso fazer um parêntesis para contar que desde o momento em que pisei nos Ghats (escadarias do lago rodeados por pequenas piscinas onde fieis se banham) fui invadida por uma energia incrível e uma sensação de gratidão. Estava agradecida por finalmente realizar uma das viagens dos meus sonhos (a Índia), ao lado de uma amiga querida (a Fabi que veio do Brasil para fazer a viagem) e por ter uma família tão maravilhosa e que sempre apoiou meus sonhos e loucuras. Antes mesmo da benção começar, eu já me sentia abençoada.
A benção começou com um pratinho cheio de oferendas: casca de coco, grãos de arroz, açafrão, pétalas de flor, barbante e tinta vermelha. O condutor da cerimônia nos contou um pouco da família dele que há anos era uma das responsáveis por esta cerimônia, pediu que levássemos a bandeja de oferendas a testa e logo começou a recitar uma série de mantras.
Iamos repetindo os mantras – as vezes em inglês e as vezes em hindi com ênfase nas palavras “Lago Sagrado, Lugar Sagrado, Felicidade, Deus Brahma” oferecendo a prece ao Deus Brahma e enviando muita energia e bons fluídos para as nossas famílias. Pensei bastante no Gustavo, nos meus pais e nos meus irmãos, era muito bom me sentir conectada com eles mesmo estando tão longe.
Depois das orações, recebemos uma fitinha de barbante em nossos pulsos – como sou casada recebi a fita no pulso esquerdo e as solteiras receberam no pulso direito.
Em seguida o “sacerdote” pintou nossas testas com tinta vermelha e colocou pedacinhos de grão de arroz colados na tinta. Para fechar a cerimônia, oferecemos as pétalas e o açafrão as águas do lago sagrado.
Terminada a benção sentamos uns minutinhos a beira do lago em silêncio pensando na benção récem recebida enquanto os raios de sol nos esquentavam. Foi aí que percebi a Índia mística se misturando com a Índia caótica e transformando minha experiência completamente. A partir desse momento fiquei mais desperta para o lado sagrado indiano e mais aberta para o que viria a seguir. Lógico que só pensei em tudo isso a noite na hora de dormir, naquele momento eu estava completamente focada em absorver e distribuir energias.
Depois de agradecer ao “sacerdote”, deixei a área do lago. Renovada, transformada e pronta para experiências as duas Índias: juntas, misturadas e ao mesmo tempo.
Este post faz parte da série Histórias de Viagem, um retrato fotográfico das minhas andanças pelo mundo.
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