Trilha para ver a lava do vulcão Kilauea no Havaí

Por mais de 3 décadas o vulcão Kilauea, em Big Island, expeliu um fluxo de lavas vagarosas e brilhantes, um fenômeno interrompido por duas erupções que transformaram o visual da região em 2018 e em 2020. Hoje não há mais um fluxo de lava ativo em Big Island, mas visitar o parque nacional dos vulcões e ver os campos de lava secas espalhados pela ilha continua sendo uma experiência pra lá de interessante.

Nesse post, dividirei detalhes da experiência que vivemos com a lava do vulcão Kilauea em 2013, uma trilha difícil e cheia de desafios que rendeu uma das 5 experiências mais incríveis que já vivemos. Pronto para se encantar?

Big Island: Lava do vulcão Kilauea

Pedacinho de lava escorrendo

A lava do vulcão Kilauea

Antes das erupções de 2018 e 2020, o fluxo de lava do vulcão Kilauea era considerado pacífico, um rio de lava vagarosa que despencava barranco abaixo até chegar no mar. O caminho da lava formava pequenas poças incandescentes de formatos variados, e o mais impressionante era a cachoeira de lava desaguando no mar e formando uma nuvem de fumaça. Pense em algo surreal!

Ver a lava de perto e tocá-la com ajuda de um bastão de madeira foi uma das experiências mais incríveis que já vivemos em toda nossa vida viajante.

Como ver lava em Big Island?

Atualmente não há vulcões em erupção na Big Island e em nenhuma ilha havaiana. Mas visitar o parque dos vulcões e ver de perto toda a trilha de destruição causada pelo Kilauea é impressionante. Você pode acompanhar a atualização do fluxo da lava neste site.

Quando visitamos a ilha, haviam três formas de ver o fluxo de lava: por trilha (uma caminhada enroscada de 12Km), de helicóptero e de barco. Nós optamos pela trilha pois queríamos chegar BEM pertinho da lava.

Lava do vulcão Kilauea

Por trilha: para quem quer chegar BEM perto da lava

 

Trilha para ver a Lava do vulcão Kilauea

Quando visitamos Big Island, não havia lava visível no Parque Nacional do Vulcões que com ou sem lava escorrendo é INCRÍVEL e merece ser visitado, mas havia um grande fluxo de lava escorrendo próximo ao oceano,  cerca de 40 minutos do parque de carro.

Subestimando o potencial da trilha

Achar o local foi relativamente fácil, uma amiga querida havia feito o passeio poucas semanas antes e nos passou todas as dicas com precisão, ela fez o passeio com um guia, mas disse que poderíamos fazer por conta própria – munidos de lanternas poderosas, bússola e um kit básico de trilha. Como a nossa amiga não é das mais aventureiras, nem pensamos em contratar um tour e decidimos ir por conta própria. (Mal sabíamos o tamanho do perrengue!)

Lava do vulcão Kilauea

Estrada fechada próxima ao local onde a lava escorria

Jeitinho Havaiano

Chegando no local havia apenas um pequeno observatório – fechado por um guardinha – e tudo o que conseguíamos enxergar era a fumaça da lava, lá longe.

Com cara de malandro e um sarcasmo ímpar, o guardinha nos deu um sorriso amarelado e falou “Welcome to the lava viewing point” (Bem vindos ao mirante da lava) e apontou para um cartaz que dizia que a única forma de visitar a lava era contratando uma excursão, o cartaz continha o telefone da agência e um chamado “reserve já seu passeio”.

Lava do vulcão Kilauea

Uma das poucas casas no meio do campo de lava

Não somos do tipo que desiste fácil e pegamos uma antipatia tão grande pelo guarda que decidimos tentar mais um pouco.

Pegamos uma das quebradas da rua principal e chegamos em uma  área quase residencial (digo quase, pois de fato estávamos no meio de um campo de lava) onde um guia se preparava para encontrar seu grupo.

Eu que sou mais cara de pau, resolvi perguntar para ele: “Como é que fazemos para fazer a trilha em conta própria?”, e ele respondeu (olhando para os lados para ter certeza que ninguém ouvia). “Em teoria, e por motivos de segurança, a trilha está fechada apenas para grupos turísticos, caso vocês queiram entrar no meu grupo, é só assinar este formulário e pagar uma taxa (se não me engano de $120,00 por pessoa). Como sou havaiano e sei como funcionam as coisas por aqui, se fosse vocês faria a trilha sozinhos. Entrem por uma das casas, o mais longe possível do guardinha e sigam a fumaça. E tenham cuidado, a trilha é escorregadia, a lava corta e no escuro fica mais difícil se orientar. Vocês precisarão de uma bússola para voltar. A vantagem de fazer o passeio comigo é que eu conheço os caminhos e trarei vocês de volta com segurança. Existe sempre uma pequena chance de vocês serem multados por fazerem a trilha sozinhos. Pensem se querem assumir os riscos”.

Não costumo desobedecer regras mas após muitos dias em Big Island – e já ter sido trolados uma meia dúzia de vezes – vimos que tudo é bem escorregadio por lá. Valia a pena arriscar, faríamos a trilha sozinhos.

A trilha

Entramos por uma das laterais, e seguimos em frente, nos orientando pela fumaça. Os desenhos de lava no chão era lindos e super diferentes, uma imensidão de rochas pretas umas arredondadas, outras pontiagudas. Para mim, só aquele pedacinho já valia muito a pena.

Lava do vulcão Kilauea

Começo da trilha, reparem na fumaça lá longe

Aproveitei o caminho para bater algumas fotos, não muitas, queríamos chegar no ponto da lava antes do pôr do sol, e pelo que havíamos lido sabíamos que tínhamos uns 8Km de trilha pela frente em uma superfície pouco amigável.

Lava do vulcão Kilauea

Desenhos de lava durante a trilha

Lava do vulcão Kilauea

Fenda no meio da lava (algumas são bem grandes e é preciso pular ou desviar)

Lava do vulcão Kilauea

Um dos desenhos de lava, já sendo tomado pela natureza

Como antecipou nosso amigo guia, caminhar na lava não fácil, a superfície é instável e a parte pontiaguda corta como vidro. As vezes tínhamos que subir pequenos morrinhos. Um par de luvas e uma calça teriam sido boas pedidas.

Por outro lado, estávamos felizes da vida com o que veríamos a seguir.

Lava do vulcão Kilauea

Pequeno morrinho de lava

De tempos em tempos cruzávamos um grupo de excursão – geralmente 8-12 pessoas acompanhados por um guia e parando frequentemente para descansar devido aos diferentes ritmos das pessoas no grupo – ninguém nunca nos parou ou nos perguntou algo. Também vimos um ou dois outros casais fazendo o passeio por conta própria e com cara de mais perdidos que nós. No final das contas deu tudo certo.

O último trecho

Aos poucos a nuvem de fumaça se tornava mais densa e mais próxima. O último trechinho de caminhada foi o mais chato, bem perto de precipício e com as ondas do mar ao fundo.

Lava do vulcão Kilauea

Tirando uma fotinho básica no último trecho

Estávamos BEM perto e já conseguíamos enxergar os barcos lá embaixo passando para observar a lava escorrendo. Uns 20 minutos depois, começamos a enxergar os pontinhos vermelhos de lava,  e empolgados apertamos o passo!

Lava do vulcão Kilauea

Lá embaixo a lava desaguando no mar

Vendo a Lava de perto

Em algum momento da caminhada o Gu encontrou um bastãozinho de madeira, ele estava empolgadíssimo para queimar o bastão na lava, e foi isso que ele fez logo que se aproximou. Eu queria fotos, muitas fotos.

Lava do vulcão Kilauea

Chegamos nos campos de Lava

Lava do vulcão Kilauea

Lava vista de perto

Lava do vulcão Kilauea

Rio de lava

Lava do vulcão Kilauea

E olha só os detalhes que lindos

Lava do vulcão Kilauea

Lava do vulcão Kilauea

Empolgada com a velocidade lenta da lava e como os os desenhos iam se formando, esqueci um pouco do tempo e fiquei viajando na cena. Depois de muitas fotos da lava, resolvi chegar um pouco mais perto, minhas queimaduras de sol, um descuido do dia anterior, ardiam e me lembravam do calor e do poder da coisa. Impressionante.

Cachoeira de lava

Ficamos bastante tempo ali, como o tempo estava nublado, não teríamos pôr do sol, mas ainda sim queríamos ver a cor da lava durante a noite, se já era bonito de dia, imagine ao anoitecer.

Enquanto esperávamos, fomos presenteados com mais um espetáculo da natureza: a lava avançou pelos penhascos e formou uma cachoeira avermelhada que aos poucos foi tomando forma e desaguou no mar gerando pequenas explosões e uma senhora nuvem de fumaça, a cachoeira ia crescendo, ficando mais bonita, e mais intensa conforme ia anoitecendo.

Lava do vulcão Kilauea

Cachoeira de lava se formando

Lava do vulcão Kilauea

Cachoeira vista do alto

 

Aos poucos começou a escurecer, e junto com a noite, vimos uma segunda cachoeira de lava se formando. Quanta sorte para um único dia  juro que não consigo pensar em forma melhor de ver e interagir com a lava.

Lava do vulcão Kilauea

Segunda cachoeira de lava se formando

 

O brilho da noite

E com a chegada da noite os pequenos rios de lava foram se colorindo e deixando o espetáculo mais vivo e mais impressionante. Eu teria ficado horas alí observando, curtindo e fotografando, mas ainda tínhamos uns 8 bons quilómetros de caminhada pela frente. Chegou a hora de voltar.

Lava do vulcão Kilauea

A noite chegando e a lava ganhando cor

Lava do vulcão Kilauea

Lava do vulcão Kilauea

Lava do vulcão Kilauea

Impressionante não?

E lembram do rio de lava? Olha só que lindo que ficou!

Lava do vulcão Kilauea

Rio de lava ao anoitecer

 

Lava do vulcão Kilauea

E olha só o que acontece quando a lava bate no mar…

A caminhada de volta: pense em um perrengue

As lanternas e a bússola foram essenciais para que chegássemos a salvo de volta para o carro. Sempre que encontrávamos um guia – e seguíamos o grupo (de longe e com respeito) – logo o guia parava parava descansar ou mudava o rumo para que não o seguirmos. O Gu estava bem confiante com seus instintos de direção e a bússola na mão, eu estava APAVORADA, com um pouco de frio e com medo da ideia de me perder em um campo de lava.

E para piorar, começou a chover. Eu detesto chuva na cabeça, e fiquei HIPER mal humorada. A chuva deixou os caminhos de lava ainda mais escorregadios e perigosos de andar. Fiquei com medo de me perder na chuva, medo de torcer o pé e comecei a praguejar o fato de não termos um guia. “Maldita ideia de fazer esse passeio sozinhos”. O Gu não perdeu o bom humor e nem se estressou, como sempre, ele estava seguro do caminho (e eu queria voar no pescoço dele cada vez que ele pedia para eu me acalmar) e confiantes que chegaríamos ao lugar certo.

Não sei quanto tempo levamos, sei que no escuro e na chuva parecia uma eternidade. Comemorei como uma criança quando vi as luzes da vizinhança onde havíamos estacionado (lá longe), eram três casinhas que indicavam que estávamos no lugar certo. Tempos depois chegamos, ensopados, porém felizes com a SUPER aventura. Foi um mega perrengue mas valeu, cada segundo.

O que eu faria diferente

Depois de ver e viver a experiência, ficou bem claro porque o caminho é fechado apenas para grupos turísticos. A caminhada é perigosa e as chances de se perder no escuro são altas. Vale sem dúvida o investimento do guia. Eu repetiria a experiência? Sem dúvida, mas contrataria um guia sem pensar meia vez.

E valeu a pena?

Muito, muito, muito. Ver lava de perto, e ter a chance de ver a cachoeira de lava se formando foi uma das coisas mais surrais que já vivi. Amei e recomendo MUITO a experiência.

Lava do vulcão Kilauea

Eu, Gu e os campos de lava nas nossas costas

Dicas para quem quer viver algo parecido

  1. Informe-se sobre o fluxo de lava do vulcão Kilauea, e quais os tipos de experiência disponíveis durante a sua viagem (MUITO CUIDADO para não ser enrolado.
  2. Se for caminhar: vá com sapatos de trilha, leve lanterna, casaco impermeável (vai que chove na volta), água e comidinhas. Uma luva também ajuda 😉
  3. Contrate um passeio. Eu fiz por conta própria e não recomendo.
  4. Leve a máquina ou telefone BEM carregado e prepare-se para uma aventura inesquecível!

Veja também:

MAUI:

 

mari vidigal
mari vidigal
Mari é editora do Ideias na Mala há 14 anos e mora na Califórnia. Já visitou dezenas de países e explorou boa parte dos Estados Unidos com seus filhos Tom e Caio. Sua paixão? Viajar com o motorhome Rocky e colecionar Springs na Flórida. Mari é conhecida pelos seus roteiros super completos dos principais destinos da Europa (sim! Tem roteiro de Paris, Madri, Londres, Portugal e Amsterdam) e pelo conteúdo mais completo da Califórnia, Flórida e Las Vegas entre os sites de viagem do Brasil. Em 2021 recebeu o prêmio IPW Travel Awards, um dos maiores prêmios de jornalismo de viagem, e em 2024 foi finalista do prêmio Europa de Comunicação.

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Comentários:
Avatar Jackson disse:

Oi Mari. Antes de ir para o Havaí (pretendo ir em fevereiro), gostaria de me certificar de que a lava está escoando pela superfície, para poder avistá-la. Saberia me dizer onde posso obter esta informação? Muito obrigado.

mari vidigal mari vidigal disse:

Oi Jackson,
No site do Volcanos National Park geralmente tem informação.
Com ou sem lava a Big Island é uma experiência que merece ser vivida
Abraços

Avatar Raoni disse:

Olá adorei o relato, estou irei para Havaí em abril, to pensando em fazer parque dos vulcões sem guia, mas iria pela manhã assim não voltaria de noite, pelo o que li de seu relato perrengue mesmo foi voltar de noite? Outra dúvida onde se pode ver a lava é na zona proibida ?

mari vidigal mari vidigal disse:

Oi Raoni,
O parque dos vulcões é uma coisa, a trilha para ver lava é outra e quando fiz a visita a Lava estava fora do parque. Você precisa ver onde está a a lava agora e se é viável fazer o passeio sozinho. Fiz e não recomendo como escrevi no post!
Beijos

Avatar Stephanie disse:

Olá Mari,
Muito obrigada pelas dicas, o blog está muito ótimo.
Vou para Big Island em agosto deste ano, você teria algum guia, ou agência que faça esse passeio das lavas do vulcão guiados para indicar, por favor?

Não vejo a hora fazer esssa viagem.

Muito obrigada.
Beijos.
Stephanie

mari vidigal mari vidigal disse:

Oi Stephanie,
Esse é um passeio que eu deixaria para contatar algumas semanas antes, como o ponto de lava muda muito você não sabe se o passeio é melhor fazer pela terra, pelo ar (helicóptero) ou barco até poucos dias antes.
Quanto a agência, infelizmente não tenho dicas.
Beijos

Avatar Kadu disse:

Olá, Stephanie! E aí, você conseguiu alguma agência? Estou indo pra lá em 2 semanas e estou pesquisando uma agencia tb.

Ai Mari … eu querooooooooooooo …
Eu sou perrengueira e mão de vaca, acho que teria feito como vocês por conta e depois me arrependido igualzinho (risos).
Nada como os blogs queridos que nos salvam de prováveis furadas!!! Mas olha … quero ver essa lava assim de pertinho também! Show!!!!

mari vidigal mari vidigal disse:

Oi Miiii,
Obrigada pela visita.
Foi um dos perrengues mais incríveis da minha vida! Recomendo muuuuito a experiência e repetiria fácil, com guia!
Beijos

Avatar Bia disse:

Olá! Estou entre Big Island e Maui para passar 4 dias. Qual destino você recomenda? Beijos

mari vidigal mari vidigal disse:

Oi Bia,
Depende. Você prefere uma viagem mais lua e mel ou uma viagem mais aventura? Maui = Lua de Mel e Big Island = Aventura. Amo as duas.