Fiordes Noruegueses: uma viagem por um dos destinos de natureza mais espetaculares do mundo
Águas azul safira, profundas e transparentes, cercadas por cachoeiras de mais de 200 metros de altura que despencam das encostas rochosas. Fios de prata penteiam os paredões, formando lindos contornos. Contei 10, mas pode ser que eu tenha esquecido de alguma. Ao meu redor o mundo, começa a descansar, são dez horas da noite, “o dia segue claro” e eu aproveito o sol fora de hora, num misto de loucura e curiosidade, e me preparo para mergulhar nas águas geladas dos fiordes noruegueses.

Inicio a contagem regressiva sem pensar muito. Dizem que o cold plunge (mergulho gelado) faz bem para saúde, melhora a circulação e pode até reduzir inflamações, mas, cá entre nós, eu fui pela experiência e pela oportunidade de cantarolar para mim mesma: “mergulhei num fiorde norueguês”. E que fiorde!
Esse é o terceiro dia da nossa viagem de motorhome pelos Fiordes da Noruega. Estou em Geiranger, um vilarejo encravado nas montanhas íngremes, cercado por cachoeiras e conectado ao mundo por duas estradas sinuosas e belíssimas, e pelo mar. De dia, o píer histórico recebe cruzeiros grandiosos e ônibus turísticos que fazem paradas para os turistas contemplarem um dos cenários mais fotografados da Noruega, mas é no silêncio da noite que o som das águas toma conta da região. Uma maravilha que só quem se hospeda em Geiranger tem o prazer de desfrutar.
Essa é a sinfonia encantada que me guia à pequena praia na beira do fiorde. Água a dez graus e três segundos de molecagem bastam para eu mergulhar. Já entrei em águas mais frias e, dessa vez, não sinto o corpo queimar. Olho para o alto e sorrio, sem saber que, nos próximos dias, viverei dezenas de experiências que se equiparam à loucura e à delícia que é mergulhar num fiorde gelado. Mas vamos por partes, agora preciso terminar o mergulho e me esquentar bem, já que um resfriado não faz parte dos planos de viagem.

O caminho dos Fiordes
Nossa casa sobre rodas, alugada com a Motorhome Trips e retirada nos arredores de Oslo, tinha sete metros de comprimento por pouco mais de dois de largura — tamanho suficiente para acomodar uma cama de casal sobre a cabine do motorista e duas beliches no fundo. No meio ficava a pequena dinette (que virava mais uma cama), a cozinha compacta com fogão de três bocas, pia e um balcão estreito.
Do lado oposto, o banheiro: tão compacto que a privada gira para liberar cerca de 70 cm de espaço quando o chuveiro está aberto. Sim, o chuveiro é fechado (e viva o banheiro seco após o banho!) e até pia ele tem — um item altamente ignorado nos motorhomes menores e que faz toda a diferença no conforto da viagem.


Acompanhada do meu marido (o Gu) e dos pequenos (Tom, 8 anos, e Caio, 6 anos), viajamos por 15 dias pelo sul da Noruega, passando pelos fiordes de Geiranger, Flåm e Eidfjord, além de Lom, Loen, Bergen e Oslo. Um roteiro montado a dedo para celebrar a chegada dos meus 40 anos, cercada de natureza com pitadas de aventura e cultura escandinava.
É difícil condensar as maravilhas da Noruega em um roteiro de duas semanas. O país é grande, as estradas são sinuosas e os trajetos demoram. O jeito foi brincar de escravos-de-jó, tirando e colocando destinos até a conta fechar. Para nós, que estamos bem acostumados a viajar de motorhome, o segredo é evitar mais do que três horas de direção por dia e, sempre que possível, dormir mais de uma noite no mesmo destino. É na segunda noite, depois de visitar os pontos turísticos principais, que os segredinhos locais começam a pintar no tabuleiro, trazendo recheio, cor e sabor à viagem. Também gostamos de ter uns dias mais livres, sem camping reservado, para brincar com a serendipidade.

Viajando como os locais
Ao longo da nossa viagem, cruzamos com dezenas de famílias norueguesas fazendo viagens parecidas com a nossa: “A Noruega é tão linda que nós amamos passar o verão por aqui” — me contou Rasmus, um norueguês que viajava com seus dois filhos adolescentes pela região de Olden. O país tem uma estrutura sensacional para esse estilo de viagem, com campings completos, pontos de descarga para os resíduos e muitos locais onde é permitido fazer o free camping. Viajar de Motorhome permite dormir na beira de um fiorde — ou ao lado de uma geleira! — com conforto e estrutura.
O app Park4Night ajuda a encontrar os melhores campings e as opções gratuitas por todo o país. Nós fizemos uma mistura de free camping com campings que reservamos antecipadamente para garantir nossa pernoite no paraíso. E, sim, nos hospedamos em alguns dos acampamentos mais lindos das nossas vidas. Nossos 15 dias na Noruega comprovaram que a melhor forma de viver as belezas e as sutilezas da terra dos trolls é viajar como fazem os locais: de motorhome. Mas, antes, que tal um giro pela capital?
Oslo: um mergulho na cultura norueguesa
Muita gente vê Oslo apenas como um ponto de partida para explorar as paisagens da Noruega. Eu não. Para mim, a capital foi uma imersão imediata na cultura norueguesa. Moderna, divertida e diversa, a cidade ostenta uma arquitetura incrível e parques bem cuidados. Em um dia de sol de verão, revela um espírito carpe diem contagiante — uma vontade de ocupar cada centímetro de grama, de transformar cada pontinha de píer em praia e de aproveitar ao máximo cada raio de sol.

A cidade abriga museus de arte incríveis, como o Museu Nacional, dono de um edifício moderno e de uma curadoria impecável que combina interatividade com obras de peso. Enquanto eu e o Gu explorávamos as galerias, os pequenos se divertiam seguindo um mapinha esperto que funciona como caça ao tesouro — com cantinhos brincantes a cada duas ou três salas e um prêmio no final.
A obra mais famosa, O Grito, de Edvard Munch, divide espaço com Van Gogh e outros nomes que fariam inveja a qualquer grande museu. Mas o acervo vai além: há múmias egípcias bem conservadas e uma seção dedicada à história do design, contada por meio de artefatos. Se você gosta de museus tanto quanto eu, vá com tempo — sair de lá não vai ser fácil.
A poucos minutos dali, o Munch Museum se destaca pela arquitetura arrojada, pelas vistas incríveis da cidade e por abrigar o maior acervo de Edvard Munch do mundo. São três estudos de O Grito, exibidos de meia em meia hora, detalhe que nos fez ficar por lá mais tempo do que imaginávamos. Também adoramos a mostra de xilogravuras, que revela o processo completo e convida os visitantes a criarem suas próprias gravuras com papel e giz de cera. Meus filhos produziram pelo menos meia dúzia de experimentos antes de declarar que estavam prontos para a próxima parada — que, como quase todo lugar em Oslo, tinha um belo parquinho na frente. Tô para ver destino mais kid friendly.



Entre um museu e outro demos, uma esticadinha na Opera House, cujo edifício inspirado em um iceberg impressiona de longe. Taí um exemplo bem legal de como a arquitetura norueguesa destaca as belezas naturais do país sem destoar do horizonte. Do alto da cobertura, contemplamos as vistas da baía pontilhada por pequenas saunas flutuantes, outro programa que merece entrar no seu roteiro e é a cara da Escandinávia. E, cá entre nós, como não amar uma cidade onde saunas flutuam na baía?
Se a vontade era parar tudo e correr para a sauna, o horário de retirada do motorhome falou mais alto. Pegamos o trem para o aeroporto e dois ônibus até a locadora de motorhome. Perrengue? Opa! Mas a economia de 130 euros no Uber e as risadas que demos no caminho valeram o desafio.
Lom: uma confluência de possibilidades
Saindo de Oslo, seguimos para o interior da Noruega, rumo ao vilarejo de Lom. Pelo caminho, cruzamos montanhas de pedra, passamos por vilarejos charmosos e vimos as primeiras casinhas com telhado de grama da viagem — uma técnica tradicional que garante isolamento térmico nos meses mais frios. No trajeto, paramos na Borgund Stave Church, uma das apenas 29 igrejas de madeira que sobreviveram à passagem dos séculos, à modernização do país e às mudanças religiosas — do paganismo ao catolicismo e, mais tarde, ao protestantismo. Com mais de 900 anos, a construção é inteiramente esculpida em madeira e sustentada por estacas (staves), numa técnica ancestral que dispensa pregos e ferragens.


Visitar as igrejas vikings é a realização de um sonho de infância. Ao entrar no seu interior, vi a Marina de 11 anos passeando pelo pavilhão de países do Epcot e pensando: “Uau! Seria incrível ver uma dessas de perto”. Meus filhos também ficaram intrigados com a construção e com o interior bem decorado da pequena igreja, um verdadeiro museu a céu aberto.
Conforme nos aproximamos de Lom, a paisagem começou a mudar. A rigidez das pedras deu lugar ao verde dos vales, e as primeiras cachoeiras da região surgiram entre os paredões, escorrendo das montanhas e preenchendo o silêncio da estrada com seu cantar constante. Em qualquer outro lugar do mundo, elas seriam cartão-postal. Aqui, na Noruega, são apenas parte da paisagem — números e sons que preenchem o silêncio das montanhas. São muitas. E são belíssimas.
No horizonte, surge a torre da igreja de madeira de Lom, erguida à beira do rio Bøvri, que ali forma uma cachoeira e divide a cidade em duas. Que lugar encantador! Lom tem jeitão de cena de filme, todinha de madeira, combinando edifícios históricos bem preservados com um espaço moderno que reúne o centro de informações dos três parques nacionais da região e um museu de arqueologia glacial que expõe centenas de peças históricas preservadas pelo gelo. Tem muitas peças interessantes expostas por lá, mas o que fisgou mesmo a atenção dos meninos foi a mostra interativa, com realidade aumentada, onde puderam explorar uma caverna de gelo, sem o menor risco de congelar os dedos.

Do outro lado da rua fica a Stave Church de Lom, a mesma que avistamos lá do alto da estrada. É claro que visitamos — e, se dependesse de mim, iríamos atrás das 29. (Para ser justa, quando chegamos à quarta, meu marido decretou: “Chega de igreja, Mari”. Sorte dele que as restantes exigiriam desvios consideráveis na rota). Das igrejas visitadas, Lom é a única que continua funcionando como centro de orações e que realiza missas e celebrações.

Sabe o que meu marido e meus filhos gostam bem mais do que visitar igrejas vikings? Pão. E nisso os noruegueses são mestres: fazem pães de fermentação natural deliciosos, boller (os tradicionais pãezinhos doces), e rolinhos de canela — mais firmes que os americanos, menos adocicados e, quase sempre, salpicados com cardamomo.
Em vários campings, tivemos a mordomia de receber pão fresquinho logo cedo. Imagina só: acampar no paraíso e acordar com o cheiro de pão saindo do forno. Em Lom, encontramos uma das melhores padarias da Noruega e, claro, nos esbaldamos. O destaque foi um bolle de pistache, doce na medida e servido quentinho. Meu único arrependimento foi não ter pedido mais uns três.
A dança das estradas cênicas
É na saída de Lom que começa o balé pelas estradas cênicas da Noruega. São 18 estradas cênicas nacionais (Nasjonale turistveger), trechos que combinam paisagens naturais espetaculares com mirantes bem projetados, instalações de arte e banheiros vanguardistas. Uma das graças de viajar pelo país é encaixar várias delas no roteiro, uma espécie de quebra-cabeças onde curvas memoráveis e glaciares espalhafatosos pontuam os trajetos, que são longos, porém maravilhosos. Quatro dessas estradas saem das imediações de Lom, e que sorte a nossa poder descer para Geiranger por uma delas!
Começamos pela Gamle Strynefjellsvegen, uma estrada histórica estreita que, desde 1881, conecta o leste ao oeste do país. São 27 quilômetros de pista única, com beirais de pedra feitos à mão, cercada por montanhas nevadas, cachoeiras congeladas, lagos glaciares de azul intenso e campos pedregosos cobertos por líquens coloridos. Mas o que mais nos marcou foi uma cachoeira brotando de dentro de uma montanha congelada — cena surreal que revela toda a força da natureza.


No finalzinho da rota, um zigue-zague de curvas revela uma sequência imponente de cachoeiras. Foi ali que aproveitamos um dos privilégios de viajar em uma casa sobre rodas: parar onde der vontade, cozinhar e almoçar com vistas que parecem pintura. De barriga cheia e câmera lotada de fotos, seguimos para a segunda estrada cênica do dia — a rota para Geiranger pela Rv 15. Um suspiro a cada curva, uma valsa entre montanhas e quedas-d’água, com o azul do fiorde ficando mais intenso e mais próximo a cada curva. Taí uma daquelas viagens em que o caminho é tão prazeroso quanto a chegada.

Geiranger: o mais belo dos fiordes
A chegada a Geiranger é impactante, e, para fazer jus à beleza do fiorde, escolhemos um camping à beira-mar. Como não é possível reservar com antecedência nos campings da região, limitamos as paradas na descida e fomos direto para o Geirangerfjorden Feriesenter – Cabins & Camping. Chegamos pouco depois do almoço e garantimos uma vaga na segunda fila, no alto de um pequeno morro, de onde podíamos ver, pela janela do motorhome, os reflexos prateados dançando na água. “Que sorte ter duas noites aqui”, pensamos enquanto abríamos a cobertura e instalávamos as cadeiras com gosto.

O cenário ainda incluía um parquinho para as crianças, uma cachoeira despencando ao lado e uma pequena prainha. Foi ali que, algumas horas depois, tomamos nosso primeiro banho de fiorde. Gelado. Revigorante. Inesquecível.
Caçando cachoeiras e o privilégio de ver um fiorde de dentro
Ver o fiorde do alto é um sonho, mas eu ainda queria sentir de perto a força das cachoeiras. Para isso, nada melhor do que um passeio de barco — e, quanto menor a embarcação, mais perto ela chega das quedas. Escolhemos um Zodiac, barco inflável potente que cruza o fiorde em alta velocidade, mas com uma suavidade surpreendente.
O macacão quentinho e impermeável torna a viagem confortável mesmo em caso de chuva. São 90 minutos de passeio, com direito a cachoeiras incríveis — incluindo a famosa Seven Sisters —, vento gostoso no rosto e muitas lendas e curiosidades sobre a região dos fiordes e as fazendas que, antigamente, se penduravam nos paredões rochosos. Enquanto o barco voava pelas águas espelhadas, o Caio, meu filho mais novo e fã de velocidade, abria os olhos e gritava: “É rápido como uma montanha-russa”.

Nosso guia, Nikolaj, nasceu na região e trabalhou por mais de 30 anos em uma fábrica de pizzas. Ao se aposentar, trocou a massa macia por um barco moderno e pela vontade de mostrar sua terra natal aos visitantes. Entre uma cachoeira e outra, nos presenteou com histórias curiosas — como a dos tempos em que os invernos eram tão rigorosos que era possível patinar sobre o fiorde congelado, ou a da antiga fazenda produtora de cerveja, que foi parcialmente destruída por um deslizamento de terra. O dono se mudou para a cidade e levou consigo a receita histórica da cerveja, que hoje é produzida localmente, em uma cervejaria aberta à visitação e presente nos cardápios dos restaurantes de Geiranger.

Foi o pretexto perfeito para emendar o passeio com um almoço na Brasserie Posten, onde provamos hambúrgueres caprichados acompanhados da tal cerveja local. Ambas as experiências foram aprovadas com entusiasmo.
Zigue-zague dos trolls
O sol nos animou a incluir no roteiro um bate e volta pelo trecho cênico entre Geiranger e Trollstigen. Estávamos curiosos para conhecer o mirante de Trollstigen, que, em norueguês, significa “escada dos trolls” — nome inspirado nas curvas fechadas que sobem a montanha como degraus e na lenda de que trolls gigantes habitavam essas encostas misteriosas.
Para chegar lá, seguimos pela Estrada das Águias — essa, de fato, habitada por águias de verdade, com ninhos imensos cravados nas montanhas — e fomos parando nos mirantes sem pressa. No Ørnesvingen Viewpoint, enfrentamos um bocado de lama (sim! Chove bastante na Noruega, e um bom tênis de trilha e um casaco impermeável são itens essenciais na bagagem.) para conquistar mais um panorama espetacular da cidade e do fiorde azul.

Na sequência, mais uma experiência bem típica: atravessar um fiorde de balsa. O trecho entre Eidsdal e Linge faz parte da rede de transporte público e surpreende pela modernidade. As balsas, que saem de meia em meia hora, têm janelões imensos com vistas para o fiorde, banheiros limpos e uma área de convivência com poltronas confortáveis e uma pequena lanchonete. Sabe aquele trajeto curto, porém lindo?

Chegamos a Linge junto com a chuva: o tempo fechou, a neblina baixou e, por um momento, pensamos seriamente em voltar para Geiranger. Mas, na Noruega, o clima muda de repente e as quatro estações coexistem, sem a menor cerimônia, em um curto espaço de tempo — então seguimos até a próxima parada para tomar um café e esperar a chuva dar uma trégua.
Ela, porém, só apertou. O Gu cogitou nem sair do motorhome — afinal, com a nossa casinha sobre rodas e a cozinha bem recheada, por que se molhar? Mas eu sou curiosa, e estava decidida a ver a garganta da cachoeira Gudbrandsjuvet, mesmo debaixo d’água. Corri, pulando poças, até o café que integra o mirante da cachoeira. Que sensacional!
Uma estrutura de concreto e vidro se projeta sobre uma das quedas da cachoeira em espiral, cujas as águas, ao longo dos anos, esculpiram o cânion. A cena era tão especial que liguei para o Gu na mesma hora: “Coloquem as capas de chuva e venham. Isso é imperdível!”. O café ainda tinha uma seleção caprichada de bolos e tortas, e uma área brincante bem fofa para os pequenos.

Confesso que meu foco estava na cachoeira — e lá fui eu enfrentar a chuva mais uma vez para ver tudo de perto. Atravessei a passarela de metal que liga o café à queda-d’água, com pequenos mirantes posicionados ao longo do caminho para acompanhar o fluxo das águas. Uma combinação poderosa: a força bruta da natureza e o design escandinavo. É impressionante como, na Noruega, as estruturas turísticas não competem com a paisagem, protegendo o entorno e, ao mesmo tempo, realçando o visual.
E não é que, junto com a minha caminhada, veio a trégua no tempo, que nos permitiu continuar a viagem? Sorte a nossa, pois o ponto alto do trajeto é o centro de visitantes de Trollstigen — um conjunto que impressiona tanto pela arquitetura quanto pelo cenário, numa mistura quase surreal de cachoeiras imponentes, mirantes estrategicamente posicionados, montanhas recortadas e o zigue-zague da estrada.


O mirante triangular foi erguido sobre um espelho d’água que conecta o curso natural do rio azulado a um lago raso, ornamentado por pequenos desníveis. A água acompanha uma passarela até o momento em que despenca no vazio, formando um terraço suspenso sobre o abismo. Dá vertigem olhar para baixo: é altíssimo, é intenso. É natureza bruta, com um toque inteligente de arquitetura moderna, garantindo segurança para o visitante e preservando o entorno.
Do outro lado, a passarela segue as curvas da montanha e vai se abrindo em pequenos mirantes estrategicamente posicionados para destacar a Estrada dos Trolls, que corre lá embaixo, entre as montanhas e as cachoeiras que despencam dos paredões. Mais uma vez, ignorei a chuva e o vento gelado e fui passear e fotografar cada um deles. Desta vez o Gu e as crianças vieram junto, mas faltou coragem para encarar a trilha rumo ao Lago Bispevatnet (2,7km, com 267 metros de ganho de elevação). Fica a dica e o incentivo para os aventureiros de plantão: parece lindíssimo.

Voltamos para o motorhome ensopados, gelados e felizes. Lá dentro, o vapor do chuveiro quente afastou o frio da estrada, enquanto o aroma adocicado do chá de lingonberries se misturava ao do chocolate Freia derretendo na boca. Duas delícias norueguesas que aqueceram o corpo e ficaram guardadas na memória — e na bagagem — até a volta para a Califórnia.
Loen: lago esmeralda e passeio na geleira
Às margens do Nordfjord fica Loen, um vilarejo cercado por montanhas íngremes, geleiras e lagos glaciais de cor esmeralda. A principal atração turística da região é o Loen Skylift, um dos teleféricos mais inclinados do mundo, que leva os visitantes ao topo da montanha em poucos minutos. Para os mais aventureiros, há também a opção de subir pela Via Ferrata — um percurso de 5 a 6 horas, com muitos trechos expostos, a travessia da ponte Gjølmunne (a mais longa do tipo na Europa) e panoramas surreais. Pena que a idade mínima para essa aventura é de 12 anos. Teremos que voltar!
Dessa vez, investimos nosso tempo em duas paradas belíssimas e bem diferentes de tudo o que havíamos visto na Noruega até então. Começamos pelo Lago Lovatnet, um lago glaciar de tons azul-turquesa e rodeado de montanhas. Para ver sua paleta de tons azul-esverdeados, adentramos uma estradinha estreita de mão única e dirigimos com calma, parando a cada mirante que surgia pelo caminho.

Fiquei tocada pela beleza e pelas cores do lago. Apaixonada por água, já viajei para a Suíça, para as Montanhas Rochosas do Canadá e para a Cordilheira das Cascades do Norte (Estados Unidos) em busca de alguns dos lagos mais bonitos do mundo. E não é que a Noruega se equiparou a esses três destinos com uma grande vantagem: em vez de estacionamento lotado e ônibus de turistas, encontramos vacas com sino no pescoço pastando às margens espelhadas. Taí uma das graças de viajar pela Noruega. Estamos no final de junho, é alta temporada na Europa, mas encontramos dezenas de lugares maravilhosos e vazios.


De lá, seguimos para a geleira Briskdal, a principal fonte de água do lago que havíamos acabado de visitar. Para chegar até ela, percorremos mais uma estrada belíssima, atravessando uma sequência de lagos menores, como o Oldevatnet, todos com cores e reflexos que nos fizeram parar o carro mais vezes do que o planejado.

A entrada do vale lembra a chegada ao Yosemite Valley, na Califórnia: paredões de granito, cachoeiras gigantes despencando das encostas e um corredor verde que se estende até a base das montanhas. A diferença é que, aqui, no meio de tudo isso, há um glaciar lindíssimo e incrivelmente acessível. Impactante? Antes mesmo de chegar perto da tapeçaria de gelo, eu já sabia que esse dia entraria para a lista dos mais bonitos da vida. Acertei.

Falando em acessibilidade
Para tornar a geleira Briksdal mais acessível, há carrinhos de golf — os Troll Cars— que fazem o percurso entre o Mountain Lodge e (quase) o pé da geleira. Eu adoro trilha e queria aproveitar o dia azul para subir a pé, mas o Gu resolveu poupar as crianças do subidão e insistiu nos carrinhos. Chegamos a um meio-termo: ida de carrinho e volta a pé. E quer saber? Se couber no seu orçamento, vale muito a pena subir de Troll Car.
O passeio custa 290 NOK (~29 USD) ida e volta ou 180 NOK (~18 USD) só ida, e tem um percurso levemente diferente do caminho de pedestres: uma rota inclinada que passa pela beira da cachoeira Kleivafossen (dá até para sentir as gotinhas de água), e sobe numa velocidade gostosa. No lugar de duas crianças cansadas, tivemos o vento no rosto e as vistas caprichadas do glaciar.

Do ponto final do Troll Car até a lagoa glacial são mais 400 ou 500 metros de subida leve. A água tem uma coloração azul-leitoso que mescla os tons de branco, azul e acinzentado que compõem a estrutura do Briksdal, um glaciar de 2500 anos e um dos braços do Jostedalsbreen, o maior da Europa. Ele desce quase na vertical, formando um bonito traçado no paredão de granito.


A volta a pé foi outro presente. Se o carrinho passa rápido pelas paisagens, a pé dá para parar, observar e sentir: o ar fresco das montanhas, o visual da região, e o som constante das cachoeiras. Enquanto isso, as crianças escalavam — sem o menor juízo — todas as pedras que encontravam pelo caminho.
E não é que ainda teríamos boas surpresas pela frente? Achamos que nenhum camping bateria as vistas de Geiranger, mas subestimamos o camping de Oldevatnet, de frente para o lago espelhado. Além da vista que mais parecia pintura, tínhamos várias amenidades legais, como caiaques e pedalinhos inclusos na diária, pula-pula e parquinho para as crianças, pão quentinho toda manhã (pago à parte), trilhas lindas saindo de dentro do camping e, o melhor: chegamos no dia exato da celebração do verão.
St. Hans-feiring: a festa junina norueguesa
No dia 23 de junho, os noruegueses celebram o solstício de verão com uma festa em homenagem a St. Hans, ou São João. Sim, uma versão menorzinha da nossa festa junina, com alguns costumes bem diferentes. Na festa junina norueguesa também tem fogueira: o fogo purifica o ambiente e traz boa sorte para o verão, colheitas fartas e boas pescas. Para espantar os maus espíritos e as bruxas que ficam soltas nessa noite, há o costume de queimar uma boneca de bruxa (heks, em norueguês) feita de palha—um gesto simbólico para espantar o mal e começar a nova estação com o pé direito.

Para comer, havia os pannekakes, panquecas adocicadas feitas na chapa e servidas com calda de frutas vermelhas e sour cream, chá quentinho e grelhas comunitárias onde cada família assava e devorava suas próprias salsichas. Entramos na dança, compramos salsichas na lojinha do camping e curtimos com os locais. O lago, iluminado pelo sol da meia-noite, brilhava na nossa frente, num espetáculo lindo de viver.
Sauna norueguesa com vista para um lago glaciar
O lago Oldevatnet foi cenário para mais uma aventura da nossa lista dos sonhos: experimentar a autêntica sauna norueguesa — ou badstue. A tradição consiste em entrar num ambiente de madeira aquecido (geralmente entre 70°C e 90°C), ficar ali por cerca de 15 minutos e, em seguida, mergulhar na água gelada. Vale rio, lago, fiorde e, na falta deles, até um balde d’água.
A sauna é um lugar de silêncio, de ouvir o próprio corpo e ampliar a conexão com o entorno: o som das pedras chiando, o vento lá fora, e o choque gelado do mergulho logo depois. Para muitos noruegueses, é um momento sagrado.

O dia mais chuvoso da viagem foi o pretexto perfeito para vivermos a experiência maluca e deliciosa que é tomar um banho de geleira — porque, sim, a água do Oldevatnet vem direto das geleiras da região. A sauna pequenina é reservada online, com opção de sessões públicas ou privativas. Com as crianças, optamos por uma sessão privativa, já que sabíamos que seria difícil manter o silêncio por uma hora e não queríamos desrespeitar a tradição local. E quer saber? Amamos. Estávamos de frente para um dos lagos mais bonitos da Noruega, celebrando meus 40 anos com estilo e um cold plunge de respeito. A água estava mais fria que em Geiranger, mas a sauna quente nos fez repetir a experiência várias vezes. Dizem que sauna rejuvenesce — na dúvida, quero testar mais vezes.
Sozinha na floresta
Para fechar meus dias em Olden, me dei de presente uma trilha linda: a Kleiva, que começa no próprio camping. Dessa vez fui sozinha, aproveitando as horas extras de luz concedidas pelo sol noturno e o privilégio de estar em um dos países mais seguros do mundo.
Já fiz muitas trilhas sozinha, mas nunca à noite. E que incrível se sentir (e estar) segura dentro de uma floresta fechada. Caminhei entre as folhas densas e samambaias verdejantes, curtindo os sons da mata, subindo degraus de pedra e pensando que essa floresta seria um lugar perfeito para uma família de trolls. Não encontrei nenhum, mas vi uma dúzia de lesmas pretas (European black slug), que após um dia bem molhado, resolveram sair para passear.
A trilha, de cerca de 2,5 km, me guiou até um clarão com vistas caprichadas do lago. Cheiro de floresta e de chuva recém-caída. Pena que cheguei junto com os pernilongos, que, na falta de outro ser humano mais apetitoso, vieram famintos para cima de mim. Fui obrigada a descer mais rápido do que subi, mas nenhum zum-zum-zum de mosquito conseguiu apagar a alegria de conquistar a montanha sozinha à noite.

Para quem tem mais tempo, deixo a dica da trilha mais longa da região, a Klovane (5,6 km, com ganho de elevação de mais de 1000 metros). Lá do alto, há uma vista maravilhosa dos glaciares que contornam os lagos. Fiquei morrendo de vontade!
Quando o caminho vira passeio
No trajeto entre Loen e Flåm, incrementamos nossa coleção de igrejas vikings com a Borgund Stave Church (três e contando!). Essa igreja pequenina, de 1180, é uma das mais bem conservadas do país e exibe telhados em camadas, esculturas de dragões e colunas entalhadas à mão. A visita inclui um centro de visitantes ultramoderno, que explica como cada um dos elementos foi construído e quais foram os fatores que garantiram a longevidade das estruturas. Aprendemos, por exemplo, que a coloração escura das igrejas vem de uma mistura poderosa entre seiva de pinheiro e alcatrão.

Visitamos o centrinho histórico de Lærdal, um dos vilarejos mais bem preservados da Noruega e famoso pelas geleias caseiras, antes de atravessar o Lærdalstunnelen — o maior túnel rodoviário do mundo. São 24,5 km de extensão, ou quase 20 minutos de estrada por dentro da montanha. Para não cansar os motoristas, o túnel tem três salões iluminados com luz azul e amarela, que simulam o amanhecer. Para você ter uma ideia, o túnel é tão longo que daria para atravessar Manhattan inteira e ainda sobraria túnel.
A parada mais linda do dia ficou por conta do Stegastein Viewpoint: uma subida íngreme e cheia de curvas, com direito a ovelhas confortavelmente deitadas no meio da estrada, até chegar ao mirante vistoso que avança 30 metros sobre o vazio. E que mirante! Feito de madeira e aço, ele passa a sensação de flutuar sobre o Aurlandsfjord, cercado por montanhas verticais e águas de um azul profundo.

Flåm: da ferrovia histórica à maior tirolesa da Noruega
Depois de ver o fiorde do alto, chegou a hora de viver outra experiência da nossa lista dos sonhos: percorrer a ferrovia histórica de Flåm, em operação desde 1940 e considerada por muitos uma das mais bonitas do mundo. A Flåmsbana conecta a cidade a Myrdal em apenas 1 hora, cruzando vales, montanhas nevadas, rios, cachoeiras e 20 túneis — 18 deles escavados à mão — numa inclinação que a coloca entre as ferrovias mais íngremes do planeta.


A viagem é toda narrada em frases curtas e em vários idiomas. E não é que também havia português de Portugal? Outra surpresa foi o livrinho de pintar que as crianças receberam no começo do trajeto e que as manteve entretidas pelo restante do percurso. Eu fui de olhos grudados na janela, torcendo para as cachoeiras aparecerem do meu lado e fotografando cada pedacinho, que é realmente lindo. O trem faz uma parada na Kjosfossen, a cachoeira mais imponente do trajeto, e uma atriz, representando a Huldra— criatura sedutora do folclore norueguês —, dança ao som de música tradicional na beira da queda-d’água.
Descemos na estação de Vatnahalsen. O plano era caminhar (cerca de 3 km) até Kårdalen e, de lá, alugar bicicletas para descer até Flåm. Há uma tirolesa que encurta esse trajeto — a maior tirolesa da Noruega. com 1.381 metros de extensão e velocidades de até 100 km/h – mas achei que o Gu, que tem medo de altura e evita tirolesas, não ia topar de jeito nenhum. E não é que ele topou a aventura? O Tom ficou tão empolgado ao ver a tirolesa imensa que conseguiu convencer o pai.

O Gu e o Caio foram primeiro. O Gu desceu meio tenso, completamente fora de sua zona de conforto e tentando nos convencer a irmos os três enquanto ele descia os 3 km sozinho a pé. Ele jura que, no meio do caminho, conseguiu relaxar e curtir. O Caio, que gosta de velocidade e encara tudo na vida como uma corrida, ficou um pouco grilado que o moço reduziu a velocidade dele como medida de segurança, mas adoraria repetir. Já eu e o Tom, que amamos altura, abrimos os braços e curtimos o vento no rosto e a cachoeira linda que cai das montanhas. Que experiência sensacional!
Chegando em terra firme, pegamos nossas mountain bikes e iniciamos a descida de 16 km rumo a Flåm, beirando o rio e a ferrovia. Cerca de uma hora de passeio, diversão e contemplação, com direito a várias paradas lindas para fotografar. Antes de nos despedirmos de Flåm, ainda deu tempo de fazer uma degustação de cervejas locais no bar com temática viking no centrinho turístico da cidade.

Bergen: peixe fresco e casas coloridas
Depois de tantos dias cruzando montanhas e explorando fiordes, Bergen, a segunda maior cidade da Noruega, trouxe uma pitada urbana e divertida para nosso roteiro de aventuras. Começando pelo desafio de entrar e estacionar um motorhome numa cidade grande, e não é que encontramos uma vaga gratuita e pertinho do centro? Praticamente um bilhete de loteria premiado—e uma combinação de paciência e experiência. Sim, chegamos cedo!
Com apenas um dia para explorar Bergen, tivemos que fazer escolhas certeiras. A minha foi provar peixes frescos no famoso Mercado de Peixes de Bergen. O edifício moderno, na beira do porto, abriga dezenas de restaurantes que servem sashimis, sushis e outras delícias preparadas com peixe fresco da Noruega. Do lado de fora, há uma área mais rústica, no estilo feira, onde você pode escolher um peixe na vitrine para ser preparado na hora ou optar por pratos prontos, como a paella de frutos do mar, colorida e fumegante. Eram muitas opções tentadoras, mas eu só pensava em uma coisa: provar o salmão norueguês direto da fonte. E que delícia!

O mercado fica em frente às casinhas coloridas e levemente tortas de Bryggen, área turística que é a cara de Bergen. Mas o ponto alto do dia foi a subida de funicular ao Monte Fløyen: vistas amplas da cidade e — o que a gente mais gosta — a chance de estar em meio à natureza, com trilhas lindas e um baita parquinho para as crianças.
Surpresas na estrada entre Bergen e Oslo
Separamos um dia e meio para fazer o trajeto entre Bergen e Oslo sem correria, a ideia era dormir em algum camping pelo caminho e continuar, na manhã seguinte, rumo a Oslo. E não é que a Noruega nos deu mais dois presentes?
O primeiro veio em forma de fiorde. Precisávamos dormir em algum lugar pelo caminho, sem fazer grandes desvios da rota, e vimos que o Eidfjord estava bem na nossa direção. E não é que os fiordes menos conhecidos também são lindos? Além do visual caprichado, nosso camping de frente para o lago Eidfjordvatnet, tinha parquinho com trampolim para as crianças e pão fresquinho de manhã.

O segundo veio em forma de cachoeira. E que cachoeira! A Vøringsfossen impressiona com seus 182 metros de queda e os arco-íris que se formam no pé da catarata. O visual é ainda mais marcante pelas pontes futuristas assinadas pelo escritório de arquitetura Carl-Viggo Hølmebakk, construídas em aço corten para oxidar e, aos poucos, se integrar à paisagem. Uma plataforma acompanha o fluxo das águas e sobe a encosta em direção ao Fossli Hotel, protegendo tanto o visitante quanto o entorno natural. Aproveitamos a deixa para provar um waffle norueguês com calda de frutas vermelhas, de frente para a cachoeira.


Outro detalhe curioso é que, para chegar à cachoeira, passamos pelo túnel espiral de Måbødalen — na verdade, não é um único túnel, mas uma sequência de túneis curvos e rampas em espiral projetadas para vencer o desnível íngreme do vale. Com o relevo acidentado da Noruega, túneis inusitados fazem parte do dia a dia nas estradas. Você, por acaso, já atravessou um túnel com rotatória subterrânea que desemboca direto em uma ponte? O Vallaviktunnelen faz exatamente isso: passa por uma rotatória subterrânea e sai na Hardangerbrua, a maior ponte suspensa da Noruega. Impossível não se impressionar!
De volta a capital
Com muitos sonhos e pouco tempo, nossa volta para Oslo precisava ser bem planejada, pois tínhamos um dia e meio, sendo que no primeiro fazíamos questão de estrear as saunas flutuantes. E que programa legal! Dessa vez, nos juntamos aos noruegueses e visitantes nas saunas do Batsudforening. A sessão dura 2 horas, e você pode ir pulando entre as diferentes casinhas, além de mergulhar em frente à Opera House de Oslo. Um show!

No dia seguinte, pegamos o ferry até o Museu Folclórico, e quer saber? Taí um jeito barato e lindo de ver uma pontinha do fiorde que compõe a baía de Oslo. Do deck, dá para ver casinhas à beira da água, as saunas flutuantes e barcos de madeira. Não é um passeio turístico de verdade, mas já dá aquele gostinho.
Falando em emoções, o Museu Folclórico é um apanhado vivo da história da Noruega, com mais de 150 edifícios originais trazidos de diferentes cantos do país. O mais legal é que, dentro de cada estrutura, há funcionários do museu vestidos com roupas de época, prontos para contar histórias, dividir curiosidades e responder perguntas.
Uma guia vestida à caráter nos levou para o interior de três estruturas de épocas distintas e foi nos mostrando como a Noruega, historicamente um país de fazendeiros, foi evoluindo: as casas simples de madeira ganharam conforto, e as vilas se tornaram cidades. Foi muito legal ver meus filhos interagindo com a guia e fazendo perguntas: “Nessa cama pequena cabiam três pessoas?”
O ponto alto da visita foi a Igreja Medieval — mais uma Stave Church! — retirada da cidade de Gol, peça por peça, em uma época em que a paróquia queria crescer. Se, na época, a igreja fotogênica de madeira era um empecilho para o desenvolvimento da região, hoje existe uma réplica no local original, na tentativa de atrair visitantes que cruzam a rota entre Bergen e Oslo.

Outra réplica, em escala menor, serve de abre-alas para o pavilhão da Noruega no Epcot em Orlando. Alguém aí reconheceu? Foi justamente essa réplica que, aos onze anos, me despertou o desejo de conhecer a Noruega. Mal sabia eu que comemoraria meus 40 anos colecionando visitas a igrejas vikings e experiências pelos fiordes, a bordo de um motorhome.
Ver a igreja original me encheu de alegria. Realizei um sonho antigo e abri espaço para tantos outros — porque, na Noruega, cada curva da estrada revela algo que você nem sabia que queria ver. Entre pontes suspensas que flutuam sobre fiordes, túneis que parecem obras de ficção científica, vilarejos históricos e cachoeiras que brotam de paredões de pedra, a viagem mistura a precisão do planejamento com o prazer das surpresas. É nesse contraste entre a rota cuidadosamente pensada e a realidade quase inacreditável do caminho que mora a magia de viajar pelos fiordes noruegueses. Sem exagero, posso dizer: é o país mais lindo que já visitamos.
Planeje sua viagem pelos Fiordes Noruegueses
Aí vão todos os detalhes para planejar sua viagem pelos fiordes noruegueses
Aluguel de motorhome
O primeiro passo para viver essa aventura é alugar o motorhome, e se você pretende viajar entre junho e agosto, reserve com antecedência. A Motorhome Trips, uma empresa especializada nestes tipo de viagem, nos ajudou com todas as etapas do aluguel. Nosso aluguel incluiu os utensílios de cozinha, mas os kids de roupa de camas era tão caros (~60 USD por pessoa) que valeu a pena trazê-los conosco. O aluguel na Noruega já inclui seguro obrigatório, balsas públicas e pedágios.
Roteiro da viagem
- Dia 1: chegada em Oslo
- Dia 2: Aluguel do motorhome – pernoite em Honefoss
- Dia 3: Kistefos Museum – Pernoite em Lilihammer
- Dia 4: Ida para Lom via Rondane Scenic Route
- Dia 5: Ida para Geiranger via Gamle Strynefjellsvegen
- Dia 6: Geiranger & Bate e volta Trollstigen
- Dia 7: Ida para Loen (Lago Lovanet e Briskdal) – pernoite em Olden
- Dia 8: Passeios pela região e Olden
- Dia 9: Ida para Flam
- Dia 10: Flamsbana – Pernoite em Bergen
- Dia 11: Bergen – Pernoite em Em Eidsfiord (já voltando para Oslo)
- Dia 12: Volta para Oslo – pernoite em Honefoss
- Dia 13: Devolução do Motorhome + Oslo
- Dia 14: Oslo + voo de volta

Campings
Fizemos uma mistura de campings reservados com antecedência com Bobil Parkering (pontos de descanso com pouca estrutura e preço imbatível) e free camping. Aí vão nossas dicas:
- Bobilparkering em Hønefoss (aforas de Oslo): no GPS – N 60°10′04.2″ E 10°15′32.0
- Lilihammer Camping: Dampsagvegen 47, Lilihammer
- Geirangerfjorden Feriesenter – Cabins & Camping – Ørnevegen 180 – N-6216 Geiranger – Por ordem de chegada
- Oldevatn Camping – Oldedalsvegen 1015, Olden – Reservas são essenciais
- Flam Camping: Nedre Brekkevegen 12, N-5743 Flåm
- Sæbø Camping AS: Eidfjordvegen 151
Gostou da nossa viagem pelos Fiordes Noruegueses? Deixe sua pergunta ou comentário
Ótima redação! Fotos ótimas! Deu muita vontade de ir p Noruega! Gostei muito do post!
<3 Que delícia sabem disso!