Consciência ambiental e turismo: sempre dá tempo de mudar!
Segundo ano de faculdade e minha primeira viagem para a Europa, eu tinha pouco mais de 20 anos e havia sido selecionada para participar do intercâmbio de 6 meses da faculdade em Madri que incluía um curso de imersão de 1 mês na lingua e na cultura espanhola.
Foi numa dessas aulas de cultura espanhola que fui introduzida ao conceito das touradas. “Quem aí já viu uma tourada?” Perguntou a nossa professora Carmen, uma espanhola baixinha de cabelos bem curtos e bem cacheados e um sotaque madrileño carregado que nunca vou esquecer. E ela emendou: “e antes que vocês me olhem feio, deixem eu explicar como as touradas são parte da nossa cultura”. A Carmen nos explicou que a animação de uma tourada é comparável a um estádio de futebol, detalhou as etapas do evento, os instrumentos que são usados para tourear e nos contou que a carne dos touros mortos no combate (posso chamar de combate?) é assada e servida nas churrascarias locais. Saí da aula intrigada e de certa forma convencida a assistir uma tourada #Mejulguem.
O que eu achei da tourada? Forte, dolorida e deprimente. Saí da arena depois de umas três sessões (sei lá quantas eram, mas eu havia visto mais que o suficiente) e passei meses ouvindo os sons da arquibancada gritando “Mata-lo”, ou xingando o toureiro por não executar o trabalho rápido.
Jamais assistiria outra tourada, ainda assim considerava uma experiência cultural “interessante”, por isso detalhei a experiência em um dos primeiros posts do blog em 2010. Hoje, quase 9 anos depois de escrever o post recebi um comentário indignado de uma leitora condenando minha visita e fiz o que já deveria ter feito faz muito tempo: deletei o artigo.
[E na real agradeço e muito o fato dela ter comentado o post e me lembrado que ele existia. Já passou da hora de deletar.]
Deletei porque a Marina de hoje jamais viveria ou recomendaria este tipo de experiência, deletei porque hoje entendo os impactos do turismo de exploração animal – sejam bois na Espanha, elefantes na Tailândia, ou golfinhos no México – e não vou contribuir e nem alimentar essa indústria.
Consciência ambiental e turismo: sempre dá tempo de mudar (e sim, todos podemos evoluir)
Consciência ambiental, no meu caso, foi um processo gradual que começou com um safari na Africa do Sul e a percepção de que é possível viver experiências magnificas com animais soltos na natureza e em seus habitats naturais. Saí da Africa fascinada pelo ritmo da selva, pela brutalidade de ver uma girafa – morta por uma picada de cobra – ser devorada pelas hienas, e pela sutileza das impalas que alimentam toda a cadeia e que servem de indicador para avaliar o quão saudável está a região.
Saí da África desdenhando qualquer tipo de zoológico e pensando que eu jamais voltaria a pisar num zoo na vida, mas mudei de opinião ao ser apresentada ao projeto espetacular do Zoo de San Diego (sei que muita gente vai dizer que é zoológico do mesmo jeito e que os animais continuam presos, mas graças a projetos como este, espécies ameaçadas de extinção foram reproduzidas em cativeiro e devolvidas a natureza. Um dos projetos que me cativou foi o case do condor da Califórnia, uma ave de rapina de envergadura gigantesca e penas pretas maiores que minha cabeça. Esse bicho gigante e com aparência de poucos amigos chegou a estar extinto na natureza e hoje, graças a intervenção do Zoo de San Diego e de ONGs, há cerca de 200 aves sobrevoando os desertos da Califórnia e Nevada. Há centenas de projetos de conservação e reprodução em cativeiro conduzidos por ONGs sérias como o Zoo de San Diego, em outras palavras, tiro meu chapéu.
Há formas sustentáveis, ecologicamente corretas e lindas de experiência a vida selvagem
Estes 9 anos de estrada também me ensinaram que existem formas maravilhosas e ecológicas de viver e celebrar os encontros selvagens, que não é preciso montar em um elefante para viver uma experiência completa e emocionante com elefantes , que ver baleias em um parque não se compara a emoção de ver baleias na natureza , que nadar com golfinhos só é algo legal se for na natureza, no habitat deles e com todo o respeito que eles merecem. E que antes de embarcar em qualquer experiência que envolva contato animal, é preciso ler, questionar e se informar para não acabar no oba-oba da exploração animal. É muito fácil ser enganado!
E viva os parques nacionais
E não é que a menina da cidade grande aos poucos seria conquistada pela natureza? Hoje boa parte dos meus destinos dos sonhos envolvem alguma experiência intensa na natureza, trilhas longas, camping e com um pouco de sorte algum encontro animal real.
Morar na Califórnia me abriu o mundo de possibilidades dos parques nacionais norte americanos, um estilo de turismo que quero semear e multiplicar. Trilhas difíceis, caminhadas na neve, montanhas cobertas de vegetação, acampar com as crianças, tenho tenta coisa para falar e uma fila de posts que prometo jamais esgotar. Minha missão? Te inspirar a ver algumas das paisagens mais lindas do mundo – e vai ter animal silvestre na jogada, pode apostar – de forma sustentável, porque é assim que tem que ser!
Longe de ser perfeita, mas quem sabe um dia eu chego lá
Embora minha consciência ambiental tenha evoluído e muito nos últimos anos – tanto no sentido experiência quanto no sentido consumo consciente e produção de lixo – estou longe da perfeição. Como carne (bem menos do que no Brasil, mas estou longe de virar vegetariana) e ainda preciso pesquisar e refinar muito minha opinião sobre os aquários (assim como os Zoos há projetos bacanas, mas tem muita porcaria por aí), mas estou aberta a mudanças e quero cada vez mais reduzir minha pegada ambiental, e ao mesmo tempo direcionar meus esforços, e essa possibilidade linda de inspirar viagens – e sonhos – para projetos que realmente valham a pena.
Te convido a embarcar nesta longa jornada da consciência ambiental comigo quem sabe juntos, sem julgamentos, e com muita informação – porque hoje ela está disponível, basta procurar, consigamos espalhar essa mensagem. Vamos nessa?
Demais Mari! Também tento cada vez menos ir a lugares que não sejam bons para os animais. Mas nem sempre é fácil saber né? Qdo fui ao Aquário de Monterey fiquei super em dúvida se ali era bom ou não para os peixes (e outros animais marinhos que tem por ali…). É um processo para nós, né? Lembro que você viu os flamingos naquelas praias caribenhas… e havia uma dúvida sobre corte de asas, algo assim, você descobriu?
Escrevi para os caras e nunca me responderam, acredita? Certeza que tem “boi na linha”. Quanto ao aquário de Monterey, o trabalho de preservação das especies aqui na Califórnia é fantástico!
Beijos e obrigada pela visita