Château de Nitray – A primeira furada no Vale do Loire
É verdade depois de tanto lugares lindos visitados como o Villandry, Chenonceau e Amboise começamos a achar que castelo no Vale do Loire era sinônimo de final feliz, mas não demoramos muito para descobrir que não é bem assim.
O nome da furada é Château de Nitray e fica bem pertinho do Chenonceau no caminho de volta para Tours. Pois bem, estávamos com um guia de castelos que indicava o lugar como um dos castelos que além de ter uma bonita arquitetura era produtor de vinho — outra pegadinha para quem adora vinho. Quando vi a placa indicando: Nitray 1km – degustação de vinhos. Não tive dúvida e falei: “vamos”.
A visita ao Château de Nitray foi feita em 2011 e esse é um relato que reflete a experiência da Mari no local.
A entrada também era convidativa: 5 euros com direito a uma degustação no final e uma bike para passear a vontade, por onde quisesse, incluída no pacote. Se ainda fosse de manhã cedo, essa bike teria nos rendido uma bela volta, mas às seis da tarde depois de andar o dia todo… não … fora que estava faltando um óleo na pobre coitada, que me exigia um senhor esforço por pedalada e ainda soltava uma rosnada de agradecimento.
E como de esforço, já me bastava o esforço diário para não me perder na estrada com o pseudo GPS frustreca que nos deixava na mão a todo momento, e de rosnada, já me bastava as da minha irmã ao menor sinal de fome. A bike foi demais para mim.
De volta a descrição do programa, a entrada incluía um filme introdutório. Nesse momento tivemos o primeiro sinal para abandonar o programa, mas não demos a devida atenção. Quando o senhorzinho ligou o DVD na telão encardido, começou a tocar um desenho de criança. Ele ficou vermelho, se desculpou, e disse que era coisa dos netos. Logo colocou o vídeo correto.
ABRE PARENTESES: Imaginem a quanto tempo o lugar não recebia uma alma viva para ter DVD de criança ligado sem o menor sinal de criança por perto. FECHA PARENTESES. Por sorte não éramos as únicas, haviam mais duas senhoras francesas para dividir a frustração conosco. De volta ao filme, tivemos um segundo sinal que estávamos no lugar errado: o vídeo era uma pseudo propaganda de quase meia hora de uma fábrica de barris de vinho mostrando a evolução do processo produtivo, nada relacionado ao castelo onde estávamos.
Terminado o vídeo fomos a visita esperando que tempos melhores viessem. Saímos com nossas pastinhas guia que recebemos. Aqui cabe uma nova observação, pois antes que você pense em elogiar a medida econômica e ecológica da pasta, gostaria de contextualizar a situação: a pasta era um amontoado de papéis, desnecessários, xerox em preto e branco, e de todos os possíveis tamanhos. Além disso havia um monte de piadinhas sem graças no meio.
Visitamos os lugares indicados na pasta:
- um antigo armazém com espantalhos feios dentro;
- uma suposta capela estava trancada;
- três salões sem nada dentro;
- um pombário: antigamente usado para pombos correios, felizmente vazio – ia detestar abrir a porta e ser surpreendida por milhões de pombos voando, e pombos quando voam também cagam, e assim candidatar minha preciosa cabeça e meus fios de cabelo a prêmio.
A nossa visita demorou menos de dez minutos e nos deixou com muita raiva. Tínhamos gastado quatro euros e 40 minutos valiosos do nosso tempo no vale do Loire para ouvir propaganda de barril de vinho – se ainda fosse bebendo o conteúdo do barril, juro que não estaria reclamando –, mas ainda tínhamos uma esperança que poderia salvar o passeio: a degustação.
Ai ai ai, decepções, o vinho, ou melhor, os vinhos estavam tão ruins ou piores que o passeio. Sabe água suja? Então, foi mais ou menos esse gosto que sentimos. Os vinhos eram completamente aguados e quase sem aroma. Totalmente diferente do que havíamos experimentado em Bordeaux. Essa foi a gota d’água para sairmos dali correndo.
Primeira Moral da história: fuja de toda e qualquer placa que aponte para Nitray, o maior conto do vigário do Vale do Loire.
Segunda moral da história: até furada na França tem edifício bonito.