Murais de Diego Rivera em San Francisco na Califórnia
Diego Rivera, o renomado muralista mexicano, fez três visitas a San Francisco deixando um legado artístico importante na cidade e introduzindo o muralismo mexicano ao país.
Seus três murais Allegory of California, The Making of a Fresco Showing the Building of a City e Pan American Unity atualmente não estão abertos ao público mas devem reabrir nos próximos anos. Enquanto isso você pode ver obras de Diego Rivera e de sua esposa Frida Kahlo no acervo fixo do SF MOMA ou assistir o documentário “Moving a Masterpiece (movendo uma obra de arte)” que detalha como o mural Pan American Unity chegou no MOMA para uma exibição que durou cerca de 2 anos.
Além disso vale acompanhar o legado da visita de Rivera em locais como o Mission Ditrict, Coit Tower e o Rincon Center.
Murais de Diego Rivera em San Francisco
Minha curiosidade pelas obras de Diego Rivera começou em 2017, pouco após uma visita a Cidade do México quando comecei a ler sobre a obra do artista e suas visitas a San Francisco. Surgiu aí minha vontade de ver os três murais expostos na cidade. Minhas visitas, coincidentemente ocorreram de forma cronológica e contaram com um pouquinho de sorte. Em 2021, o mural Pan American Unity – que é o maior e mais bonito deles – foi emprestado ao MOMA SF e eu tive a chance de vê-lo duas vezes. Fiquei tão encantada que quero vê-lo novamente quando o o novo Teatro do City College, onde ele ficará exposto permanentemente for reinaugurado, enquanto isso divido com você fotos das obras e detalhes das minhas visitas.
Allegory of California (Alegoria da California) – Pacific Stock Exchange Luncheon Club
Durante sua primeira visita em 1930-1931, Rivera foi convidado para pintar o mural Allegory of California, localizado no Pacific Stock Exchange Luncheon Club (atualmente o City Club of San Francisco). Este mura celebra a abundância e diversidade da Califórnia, representando figuras históricas e culturais do estado em uma obra que mitura os estilos europeu e mexicano com um simbolismo forte e narrativo.
O San Francisco City Club (155 Sansome St 10th floor, San Francisco) fica no 10º andar andar da Stock Exchange Tower (um edifício adjacente a antiga bolsa de valores hoje sede da academia Equinox) e repleto de ornamentos Art Deco. Para visitar o mural, que atualmente não está aberto ao público, contei com a ajuda do San Francisco Travel.
O passeio começa pela entrada do prédio, um espetáculo para quem curte arquitetura: pé direito alto, uma porta enorme de vidro e muitos elementos dourados.
Chegando ao City Club, os detalhes e ornamentos ficam ainda mais bonitos, não é atoa que o City Club é conhecido por ter o interior Art Deco mais bonito de San Francisco. São dois andares conectados por uma escadaria central, e um dos salões de banquete mais disputados da cidade. E é nessa escadaria principal que está o afresco de Diego Rivera, a Alegoria da Califórnia.
Chegando no City Club, Jennifer a recepcionista simpática, me recebeu com sorriso no rosto e apontou: “olhe, o afresco está bem atrás de você”! Soltei um UAU bem sonoro e comecei a admirar a pintura: cores vivas, riqueza em detalhes e muitos elementos interessantes.Vista de perto a Alegoria da Califórnia é maior, mais bonita e mais interessante do que as fotos da internet tentam mostrar.
A mesa da Jennifer fica exatamente na frente desse afresco gigante: “Sou uma pessoa de sorte, não é todo mundo que tem o privilégio de ter um Diego Rivera no escritório”, ela brincou. E eu provoquei perguntando se ela não se cansava de olhar para ele. E ela respondeu rápido: “de jeito nenhum”. E em seguida indicou: “A vista de baixo é linda, mas a melhor foto é do segundo andar. Pode ficar a vontade”.
Detalhes sobre a Alegoria da Califórnia
A figura central do afresco, uma mulher de olhos azuis é Calafia o espírito da Califórnia, e a inspiração do nome do estado. Calafia carrega alguns dos tesouros californianos nas mãos: na mão esquerda, minérios e tudo o que vem do fundo da terra e na mão direita produtos agrícolas – até hoje a Califórnia é responsável por grande parte da produção agrícola norte americana. A indústria petrolífera e a industria naval estão retratadas nas costas de Calafia.
Algumas personalidades importantes da época são retratadas no afresco: Calafia é a tenista medalhista olímpica Helen Wills Moody o carpinteiro James Marshall que iniciou a corrida do ouro na Califórnia ao encontrar ouro em Sutter’s Mill, e o famoso horticultor Luther Burbank. O afresco também retrata profissões importantes da época: um engenheiro, um comerciante, um fazendeiro peneirando ouro e um jovem brincando com um avião, uma alusão aos sonhos da juventude.
No teto a figura feminina na diagonal faz uma alusão as linhas de trem -que passaram então a conectar as costas leste e oeste dos Estados Unidos.
Diego Rivera, uma escolha polêmica para decorar o San Francisco City Club
Vale falar que a escolha de Diego Rivera para decorar a principal parede do edifício da Bolsa foi uma escolha um tanto controversa. Rivera era conhecido por suas ideias comunistas, e chamá-lo para decorar o “centro do poder capitalista de San Francisco”, foi um tanto contraditório, não acham? Naquela época o Stock Exchange Tower era um edifício que concentrava os escritórios dos principais executivos da bolsa de SF, e que o City Club era na época o Restaurante do edifício da bolsa.
The Making of a Fresco Showing the Building of a City (Produzindo um afresco que mostra a construção de uma cidade)
Pouco depois, Rivera criou outro mural icônico em San Francisco, o The Making of a Fresco Showing the Building of a City, no antigo San Francisco Art Institute (a intuição decretou falência em 2023, seu edifício foi leiloado, comprado pelo BMA Institute e vai passar por uma super revitalização nos próximos anos. Enquanto o edifício não reabre ao público, quero dividir com você detalhes sobre o mural que é um dos mais famosos da cidade.
Além do icônico mural, a visita ao San Francisco Art Institute incluía um edifício histórico no estilo colonial espanhol com direito a um interior moderno e vistas caprichadas para a cidade.
O mural ficava dentro de uma sala que era usada para exibições de fotografias e telas dos alunos da instituição. A iluminação central e a escuridão da sala dificultavam as fotos. Tirei várias e nenhuma delas saiu boa.
Na pintura Rivera demostra uma visão do processo criativo do muralismo, com figuras de operários e artistas trabalhando lado a lado. Rivera se colocou na obra junto com os assistentes e engenheiros, destacando a importância coletiva da criação de arte e arquitetura.
Esperamos que reforma do edifício devolva aos San Franciscanos e visitantes da cidade a chance de contemplar um mural icônico e as vistas preciosas da cidade.
Pan American Unity – San Francisco City College
Em 1940 Diego Rivera retornou a San Francisco para participar da Golden Gate International Exposition, onde criou um de seus murais mais ambiciosos, Pan American Unity, um enorme mural de dez painéis que homenageia à união dos povos das Américas, com imagens de heróis históricos e símbolos de progresso e industrialização.
Na obra Rivera ilustra sua visão de uma sociedade onde o avanço tecnológico e o progresso artístico trabalham em harmonia. Nela você encontrará três auto-retratos de Rivera, um retrato de Frida Kahlo e dezenas de detalhes que contam histórias daquele tempo. O mural passou mais de dois anos exposto no SF MOMA e em 2024 foi devolvido ao San Francisco City College ele será instalado no Diego Rivera Theater dentro do campus da universidade. Na foto acima dá para ver bem a dimensão da obra em relação aos visitantes. É colossal.
A influência de Diego Rivera na arte de San Francisco
A passagem de Rivera por San Francisco foi significativa não só por sua produção artística, mas também pelo impacto cultural, inspirando muralistas e artistas locais. Poucos anos após a primeira visita de Rivera, a cidade ganhou duas obras financiadas pelo Works Progress Administration (WPA) – um programa governamental que incentivava artistas a criarem – que tem tudo a ver com o estilo de Rivera: os murais no interior da Coit Tower, pintados em 1934 por mais de 20 artistas, e os murais do Rincon Center pintados por Anton Refregier entre 1941 e 1948.
Coit Tower
A Coit Tower é conhecida pelas vistas panorâmicas de San Francisco. O que pouca gente sabe é que o primeiro andar da visita é gratuito e contém murais que cobrem as paredes internas da torre e apresentam cenas detalhadas da vida cotidiana, trabalho e indústria do estado, com influências do movimento muralista mexicano. Um reflexo das aspirações e desafios da sociedade da época
Rincon Center
Coladinho no Ferry Building e no distrito financeiro de San Francisco o Rincon Center (121 Spear St, San Francisco) guarda um tesouro pouco conhecido entre os visitantes de San Francisco. São 27 murais coloridos e bem conservados que retratam a história da Califórnia, desde suas raízes indígenas, passando pela mineração até a era moderna, com direito a temas polêmicos como a colonização e a luta dos trabalhadores.
Quem for até lá pode aproveitar a deixa e comer no Yang Sing, um restaurante chinês especializado em din sun. É uma delícia!
Mission District
Não dá para falar da tradição muralista em San Francisco sem falar do Mission District, e embora as obras que se espalham pelas paredes e becos do bairro sejam muito mais recentes a influência de Rivera, principalmente na escolha dos temas e estilo de execução dos murais, é claramente presente.
Alguns murais locais que merecem a visita são:
Balmy Alley
Pintados na década de 1970 do murais do Balmy Alley retratam temas como justiça social e política, imigração, além de homenagens a líderes e culturas latinas. Seu caráter ativista tem clara influência nas obras de Rivera.
Women’s Building
Com uma escala impressionantes e detalhes que lembram o estilo narrativo de Rivera esse edifício explora o empoderamento feminino, representando figuras femininas de diversas culturas e tempos. Taí uma pintura linda e que me toca bastante todas as vezes que passo por lá.
Clarion Alley
Os murais do Clarion Alley estão sempre mudando e sempre sendo renovados. Com caráter colaborativo eles abordam temas de justiça social, igualdade e identidade cultural
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