Afroturismo: 2 roteiros imperdíveis sobre história e cultura negra no RJ
Afroturismo no Rio de Janeiro! Se você curte roteiros diferentes, que vão muito além do turismo tradicional e adora saber mais sobre a cultura e as raízes do nosso povo, esses 2 roteiros sobre a história e a cultura negra no RJ são para você!
Esses roteiros de afroturismo no Rio, nos levam conhecer a cidade partir da visão do povo negro que ajudou a construí-la. O Afroturismo resgata memórias, lugares e personagens negros que marcaram a história brasileira. Vou contar aqui como e por que você deve incluir os 2 roteiros sobre a história e a cultura negra na sua viagem!
Afroturismo no Rio de Janeiro: 2 roteiros diferentes
O Afroturismo é uma vertente do turismo tradicional que vem ganhando muita força no Brasil. Isso porque ele nos apresenta a história das cidades sob a perspectiva negra, destacando pontos turísticos, bairros e acontecimentos históricos que até pouco tempo atrás não eram mencionados em livros de História do Brasil, mas influenciaram a formação cultural do nosso povo. Como uma das cidades mais antigas, e a segunda capital do Brasil, o Rio de Janeiro está recheado de histórias e de cultura negra.
O turismo Afro cria uma reconexão dos negros com a sua ancestralidade e amplia a consciência de todos sobre a relevância do povo africano na história e cultura brasileira. Agora não pense que o afroturismo conta somente histórias de dores relacionadas a escravidão, não! Têm muitas histórias sobre resistência, união, música e vitórias.
Aí vão dois roteiros sobre Herança Africana no Rio de Janeiro que eu fiz e recomendo:
1 – Pequena África
Após o projeto do Porto Maravilha (que reformou toda a região do centro e a Zona Portuária do Rio para os Jogos Olímpicos), a prefeitura da cidade criou um roteiro chamado Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana e esse circuito passa pelos bairros da Gamboa, Saúde e Praça Mauá.
Foi Heitor dos Prazeres (sambista e compositor), quem no início do século XX, denominou esse trecho da cidade de Pequena África.
O percurso é feito a pé e dura 3h. Eu fiz o tour com a Sou+Carioca, mas existem diversas empresas que fazem esse roteiro como a Conectando Territórios e a Rio Antigo.
Ao longo do tour temos uma aula de história do Brasil contada a partir do olhar negro, desde a chegada dos africanos ao Brasil como escravos, relatando o tratamento desumano que eles receberam, suas lutas como negros libertos pós abolição, histórias de personalidades como Tia Ciata e da bailarina Mercedes Baptista e a criação do samba.
Os principais pontos do tour são:
Morro da Conceição
Ele é o berço da ocupação da cidade do Rio de Janeiro com sobrados centenários e vilas de operários. Muitas ruas ainda guardam a aparência dos tradicionais bairros portugueses com suas casas típicas, uma herança histórica da época em que ali viviam pessoas da alta sociedade.
Largo de São Francisco da Prainha
O largo tem esse nome porque o local já foi uma praia conhecida como prainha (século XIX) que sumiu após os aterros na região. O local já funcionou como um mercado de pessoas escravizadas, antes da existência do Cais do Valongo, e após a abolição os negros encontraram ali um local para morar.
A estátua que fica na praça é da Mercedes Baptista. Ela foi a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e também criadora do balé Afro-brasileiro, inspirado nos terreiros de candomblé.
O largo já circulou no ranking da Time out Londres com uma região super descolada, cheia de bares e pessoas de todos os tipos de perfis. Ao final do tour, esse é um bom lugar para voltar e almoçar, ou beber uma cerveja gelada e garrafa e no isopor. Dois bares famosos na praça são: Angu do Gomes (Endereço: Rua Sacadura Cabral, 75 – Saúde, RJ) e Bafo da Prainha (Endereço: Largo São Francisco da Prainha, 15 – Saúde, RJ).
Pedra do Sal
Foi tombado em 1984 como Patrimônio Histórico. É uma pedra enorme e na qual foi talhada uma escada e, no passado, os escravos utilizavam as escadas para descarregar o sal dos navios que atracavam no porto.
Foi na Pedra do Sal que começou a disseminação do Candomblé no Rio de Janeiro e na década de 1930, o local foi o berço do samba carioca. Ainda hoje a Pedra do Sal é palco de rodas de samba e de choro (de sexta à segunda a partir das 18h). O Instagram oficial é @pedradosaloficial
Jardim Suspenso do Valongo
O jardim foi construído em 1906 como parte de um projeto para remodelar e trazer ares europeus para a cidade, então nada melhor do que um jardim inglês.
A ideia na verdade era apagar da memória das pessoas a história do local: a rua era repleta de lojas que vendiam escravos e era dali que os escravos saiam para as Casas de Engorda, local no qual os recém-chegados que estavam muito magros ficavam até ganhar peso para que seu preço aumentasse no mercado. Ouvir a explicação da guia sobre essa parte da nossa história foi bem difícil, e me fez refletir sobre como essas pessoas eram tratadas sem nenhuma dignidade e ficaram esquecidas na História.
Cais do Valongo
Foi construído em 1811 para ser o local de desembarque e comércio de escravos africanos. O mercado de escravos se intensificou a partir da construção do cais e estima-se que o local foi a porta de entrada de cerca de 1 milhão de escravos africanos.
Em 1843 ele foi remodelado com requinte para receber a Princesa das Duas Sicílias, Teresa Cristina Maria de Bourbon, na época noiva do futuro Imperador D. Pedro II. O cais passou a se chamar Cais da Imperatriz. Com as obras de revitalização da cidade, em 1911 ele foi aterrado e desapareceu.
Com as obras do Porto Maravilha (2011), o sítio arqueológico foi resgatado, assim como vários artefatos trazidos pelos africanos escravizados. O Cais do Valongo recebeu o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO em 2017 por ser o único vestígio material da chegada dos africanos escravizados nas Américas.
Onde comer na Pequena África do Rio de Janeiro
Quando o tour acabou, algumas pessoas do grupo resolveram almoçar juntas em um bar da região. Nós fomos no Odara Gastrobar Urbano (Endereço: Rua Sacadura Cabral, 375 – Saúde, RJ), é um bar bem legal e descolado, com comida boa e barata!
Comi um pastel de costela bovina e uma feijoada que estavam deliciosos, a feijoada serve tranquilamente 2 pessoas! A casa tem drinks autorais que valem a pena ser pedidos.
Fora do circuito, mas também uma opção interessante para continuar nessa vibe de ancestralidade africana é comer no Dida Bar e Restaurante (Endereço: Rua Barão de Iguatemi, 379 – Praça da Bandeira, RJ), um local que como eles mesmo dizem compartilha saberes e valores africanos através da gastronomia.
A decoração do bar é toda temática, eles tem uma área climatizada e outra que é um jardim super lindo! O atendimento do restaurante é excelente e ainda tem uma lojinha que vende roupas de tecidos africanos e bijuterias.
No dia em que eu fui estava acontecendo o Festival Comida di Buteco, então minha escolha foi o aperitivo que estava participando do concurso: dadinhos de tapioca feitos com ingredientes de feijoada, lombo desfiado, bacon crocante, couve crispy e geleia de pimenta. Para acompanhar pedi um drink super diferente chamado entre palhas, que era uma vodka infusionada com pipoca e caramelo salgado, tanto a comida como o drink estavam muito bons.
2 – Herança Africana em Madureira
Quem gosta de samba com certeza já ouviu a música do Arlindo Cruz “Meu lugar” na qual ele exalta o bairro Madureira e conta nas entrelinhas um pouco das suas características e história:
Ai meu lugar
Quem não viu Tia Eulália dançar
Vó Maria o terreiro benzer
E ainda tem jongo à luz do luar
Ai que lugar
Tem mil coisas pra gente dizer
O difícil é saber terminar
Madureira, lá laiá
Madureira, lá laiá
Madureira é a capital do subúrbio carioca, um lugar cheio de histórias, terra do samba e berço do jongo. O bairro respira ancestralidade africana e nesse tour conhecemos os seus principais pontos turísticos.
O percurso é feito a pé e dura 2h. Eu fiz o tour com a Sou+Carioca, mas existem diversas empresas que fazem esse roteiro como a Guiadas urbanas, Tour Delas e a Brafrika.
No início do tour a guia nos contou como se deu a formação do bairro,que já foi uma grande fazenda, e a origem do seu nome. Também aprendemos como a população negra chegou a Madureira, empurrada pelo poder público que queria transformar o Rio de Janeiro na Paris dos trópicos e com isso eliminou as moradias populares do centro da cidade.
Madureira é popularmente conhecida como o berço do samba devido a duas grandes Escolas de Samba que tem suas quadras no bairro: Portela e Império Serrano.
Na verdade o berço do samba é a Pedra do Sal, na Pequena África e Madureira é o berço do jongo –uma dança afro-brasileira de roda e de umbigada, que vem dos tempos da escravidão –sendo o mais famoso o Jongo da Serrinha.
Os principais pontos do tour são:
Viaduto Negrão de Lima
O tour começa embaixo do viaduto de Madureira como ele é popularmente conhecido. Uma área que abriga vários grafites e a famosa feira das brecholeiras, um mercado a céu aberto que acontece todo sábado em frente a CUFA. A feira transformou as mães solo em mulheres empreendedoras e capazes de sustentar seus lares.
Os grafites desenhados nas pilastras do viaduto nos contam através de imagens a história e a cultura do bairro. Eles falam sobre as primeiras pessoas a habitarem a região quando ainda era uma fazenda, o jongo, a religião de matriz africana e a ausência do pai na dinâmica familiar – uma realidade bem comum para as pessoas negras.
Praça das mães
A praça se chama assim porque lá tem uma estátua de uma mulher com um filho no colo e aos seus pés está escrito a palavra mãe. Foi o primeiro monumento dedicado às mães, mas não existe uma história oficial do porquê esta estátua foi colocada lá. Hoje a praça abriga diversas carrocinhas que vendem lanches rápidos, sopas e cerveja gelada, sendo um ótimo local para comer antes ou depois de curtir um baile de charme!
Na terceira quinta-feira do mês acontece um evento chamado Fuzuê que tem espetáculos gratuitos de jongo e samba de roda.
Baile Charme
Quem já ouviu falar de Madureira, com certeza também já ouviu falar dos famosos baile charme que ocorrem por lá! Mas que estilo de música é esse chamado charme? Na verdade são músicas de funk melody, soul e black music. Os movimentos culturais de música negra americana, principalmente o soul e funk dos anos 70 e 80 são a base de formação desse baile.
O baile do viaduto de Madureira se tornou um Patrimônio Imaterial da cidade do Rio de Janeiro em 2013. Ele faz parte da formação cultural e da identidade das pessoas negras, além de ser o reduto da black music no Estado.
Escola de samba Império Serrano
A Escola foi fundada em 1947 após um desentendimentos entre os sambistas da Escola Prazer da Serrinha. Foi a primeira escola a criar um samba que contava um enredo e essa inovação rendeu o título de campeã em seu primeiro desfile em 1948 e nos 3 anos subsequentes.
A Império Serrano também foi a primeira escola a ter uma mulher na sua Ala de compositores: Dona Ivone de Lara. Ela se tornou a primeira mulher a assinar um samba-enredo e foi conhecida durante sua longa vida como a Rainha do samba.
Escola de samba Portela:
A Escola foi fundada em 1923 sendo considerada a Escola de Samba mais antiga da cidade. Ela também ocupa o posto de escola com o maior número de títulos, são 22 no total sendo chamada de Majestade do Samba.
A Portela tem uma participação muito importante na vida cultural carioca, pois a sua Velha Guarda coleciona nomes importantes do samba como Paulo da Portela, Tia Surica, Natal, Paulinho da Viola, Candeia, Monarco, Clara Nunes entre outros.
Minha dica para quem não pode fazer esse roteiro, mas quer conhecer alguma escola de samba é: acompanhe a escola nas redes sociais. É comum as escolas fazerem eventos como feijoada, show de sambistas e rodas de samba, então programe a sua viagem para poder participar de algum desses eventos.
Janeiro e fevereiro não há eventos devido a proximidade do carnaval e os constantes ensaios, contudo você pode assistir os ensaios que as escolas fazem na rua nos arredores da quadra. O ensaio técnico das escolas na Marquês de Sapucaí são abertos aos público e gratuitos, mas chegue cedo porque eles ficam lotados.
Parque Madureira:
É uma área de lazer com bosques, quadras para praticar esportes, pista de skate e ciclovias. No local tem uma praça do samba, onde ocorrem shows e onde símbolos das duas escola de samba do bairro estão gravados.
Quem entra no parque pelo acesso de Madureira vê logo uma árvore bem diferente bem na entrada: é um baobá. Ela foi plantada pelos integrantes da Portela, pois tem valor simbólico para a cultura afro-brasileira.
Segundo a tradição africana, o baobá representa uma ponte entre os vivos e os mortos. Ela também carrega a simbologia da ancestralidade, pertencimento e resistência do povo negro.
No final do tour nós resolvemos curtir um pouco os bares do parque e os sambas que estavam rolando. Há muitos lugares para comer, alguns com música e outros sem. Escolhemos um barzinho com música ao vivo para tomar uma cervejinha e conversar. Recomendo!
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pessimo. não traz informações de como participar ha horas tentando
Olá Virginia,
No início de cada tour eu indico as empresas que fazem o passeio.
Os tours funcionam de acordo com a demanda, não tem data e nem horários fixos. Basta você clicar no nome da empresa que você será direcionado para a página dela e poderá ver a disponibilidade do tour direto com eles.
Bom passeio.